domingo, 25 de janeiro de 2015

De novo, com os olhos e ouvidos nas origens.

    Hoje gostava de estar em Atenas a gritar SYRIZA.

     Espero que amanhã, num tempo mais alargado do que o dia, o grito ecoe para cada medida ou decisão feitas da honestidade e do dever cumprido para o prometido. Basta de sufoco, a bem de alguma esperança. Por maior que tenha sido o erro do passado, para que haja presente com sentido há que abrir a caixa de Pandora.
     Assim se construirá verdade, confiança, referência, ao contrário de muitos que continuamente desdisseram o que os levou ao poder. 
    Assim se alimentará tempo novo, com uma outra forma de fazer as coisas, mais atenta ao Homem e menos ao capitalismo sufocante e castrador em que as instituições de crédito financeiro se tornaram.
    Curioso (ou talvez nem tanto) que tudo esteja a acontecer na Grécia, nesse berço do pensamento democrático original. Se foram muitos os erros anteriores, se ainda há quem não cumpra o que é necessário para o bem comum grego (e, por consequência, europeu), tudo tem que ser feito para responsabilizar os que prevaricam; mas também há que criar vontades, novas vozes, novas caras e dinâmicas de futuro, apostadas na mudança (não no 'statu quo' ou no 'dejá vu').
    Em tempo de novo protagonismo, de um pioneirismo que se quer exemplar para a Europa - continente que muito lhe deve o nome -, gera-se uma causa de dimensão nacional com sentidos e efeitos muito para além da fronteira grega; revê-se o próprio continente, aquele que da Grécia recebeu toda uma civilização (a qual esteve na origem de tudo), segundo rezam a História e os mitos.
"O rapto da Europa", de Peter Paul Rubens (1628-9)
   Nesses tempos dos primórdios, dos deuses da anti- guidade clássica, uma princesa fení- cia se impôs pela beleza, chamando a atenção e as paixões do poderoso deus grego: Zeus. Disso não gostou Hera, a ciumenta mulher do deus principal da mitologia grega. Daí este ter-se transformado num touro, para se apro- ximar da princesa, que, maravilhada, coroou o animal com uma grinalda de flores e acabou por saltar para o seu dorso. Ao senti-la nas suas costas, o taurino e supremo morador do Olimpo desatou a correr em direção ao mar, só parando quando chegou a uma pequena ilha: Creta. Aí, à sombra de um plátano, revelou-se na sua verdadeira forma. Acabaram ambos por dar vida a três crianças: Minos (futuro rei de Creta e um dos juízes do inferno, que ouvia as confissões dos mortos), Radamanto (rei das Cíclades, conhecido pela sabedoria e justiça) e Sarpedão (príncipe da Lícia).
      Hoje, em tempos de crescentes individualismos, fala-se na necessidade de um espírito gregário, de uma natureza associativa (pretendida e nem sempre alcançada) para ultrapassar problemas e crises comuns, numa inspiração apoiada no modelo das ágoras e das ligas que instituíam a união de esforços. Os tempos são efetivamente outros, à espera mais de Radamantos do que de grupos que não pugnam pela felicidade comum.
       Talvez aqui a Grécia ainda tenha uma palavra a dizer. Eu gostava que fosse SYRIZA, pelo que esta coligação possa representar de exemplo para uma saída humanizada e feliz para a austeridade; para a afirmação de uma nacionalidade mais interessada no seu povo do que nas prioridades especulativas de grupos mais focados nas próprias bolsas (e nos respetivos bolsos), em detrimento do bem social comum.

    Num país que tanto deu à Europa (cultural e linguisticamente), talvez ainda esteja a ser preparada (mais) uma lição. Que assim seja, a bem dos homens que nela moram e para que os mesmos, ou outros ainda, saibam que há uma forma diferente de fazer as coisas (sem ter de se cair em igualitarismos duvidosos nem em controlos ameaçadores, perversos e desumanos).

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