Passou um ano.
Assim o registei nessa altura: caiu no céu.
Hoje, na cerimónia pública de homenagem ao nobel da literatura português, sublinhou-se a simplicidade de uma oliveira e de um banco colocados frente à Casa dos Bicos - Fundação Saramago. Depositados os restos mortais junto às raízes dessa árvore, cumpriu-se o desejo, a vontade (tão simples) final do autor.
É verdade que, no Memorial do Convento, as últimas palavras são para um homem (maneta) cuja alma não subiu às estrelas porque à terra pertencia. O mesmo será dizer que nesta se cumprem ou se formulam as vontades; nela importa que se firmem as almas, para que não só do corpo seja ou esteja ocupada. Desta forma, sol e lua, Baltasar e Blimunda, matéria e espírito se cumprem no mundo que é nosso.
Foto de Daniel Mordzinski
Foto de Daniel Mordzinski
No Ano da Morte de Ricardo Reis, a abertura do romance "Aqui o mar acaba e a terra principia" não deixa de se reiterar no final, no momento de Ricardo Reis "dar o grande grito": "Aqui, onde o mar se acabou e a terra espera".
No documentário José e Pilar, Saramago dizia querer ser árvore na próxima reencarnação: para estar com as raízes agarrada à terra - esse mesmo lugar que esperou pelas cinzas do escritor e recebeu o cumprimento de uma vontade que na terra se (a)firmou.
Cumpriu-se também a memória.
No documentário José e Pilar, Saramago dizia querer ser árvore na próxima reencarnação: para estar com as raízes agarrada à terra - esse mesmo lugar que esperou pelas cinzas do escritor e recebeu o cumprimento de uma vontade que na terra se (a)firmou.
Cumpriu-se também a memória.
"Somos habitados pela memória", disse-o Saramago. Hoje deixei que a memória saísse deste meu habitáculo e abraçasse a vontade, para que se cumpra na terra o que já se fez no mar; se descubra, junto ao nosso nariz, o que parece estar longe dos olhos; se faça da memória um ingrediente para um futuro melhor.
Sem comentários:
Enviar um comentário