segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Coesão - entre a referencial e a lexical

    Desta feita a questão é sobre gramática, mas de âmbito textual.

    Uma das propriedades da textualidade é a da coesão, apoiada em marcas de conexão e em processos linguísticos verificáveis ao nível das sequências e da articulação de enunciados (onde cabem categorias como as de construção de referência; de mecanismos de substituição, de elipse, de articulação e de relação lexical), numa complexidade de ligações que sustenta a boa formação dos enunciados, dos discursos, dos textos.
    Uma tabela-síntese com os processos / mecanismos implicados é a que se pode sumariamente verificar no seguin-
te registo, publicado no manual escolar de 10º ano, do qual sou co-autor.
    Aí (na página 199), entre outros tipos de coesão, podem ser
lidos os que abaixo se apresentam:

    Assim se impôs a dúvida / ques-tão:

Q: Relativamente à distinção entre a coesão refe-rencial e a lexical, não percebo bem. Então numa substituição de um nome por um pronome pessoal, não estaremos perante um processo de coesão lexical, por pronominalização, uma vez que remetem para o mesmo referente? E, nesse caso, não se considera que a substituição é realizada por meio da anáfora, neste caso pronominal?

     R: A distinção dos vários processos de coesão é uma questão metodológica que não deixa de manter relações com processos / mecanismos diferenciados, muitas vezes convocando uma interligação estreita ao nível dos enunciados e/ou da superfície textual.
    Se, em termos de coesão referencial, se focalizam relações de dependência entre elementos gramaticais que constroem redes de referência entre enunciados antecedentes / consequentes e suas condições de produção (pelo recurso a anáforas, catáforas, elementos deícticos), no caso da coesão lexical é ao nível do léxico, do vocabulário e das unidades lexicais (com suas relações semânticas) que a questão mais se coloca. Chega-se, neste último caso, a contemplar casos de co-referência não anafórica, que não são considerados na tipologia anterior.
     Assim, substituir um nome / grupo nominal por um pronome é um mecanismo típico da coesão referencial, dado o recurso a um mecanismo de natureza relacional ou gramatical (ex.: o rapaz > ele > lhe > se…), de âmbito mais fechado. Anáforas pronominais são exemplos de coesão referencial, neste sentido estritamente gramatical.
     Já o caso das anáforas lexicais tende mais para um processo de coesão lexical, no qual se contemplam mecanismos mais ilimitados e abertos de actualização do léxico em vocabulário. Daí as relações de (1) sinonímia, (2) antonímia, (3) hiperonímia-hiponímia, (4) holonímia-meronímia, (5) associação, (6) anáfora resumativa, entre outros (ex. 1.: o rapaz > o miúdo > o moço > o jovem > o garoto… / ex. 2: O pobre pedia, mas o rico não ouvia. / ex. 3: Os veículos estavam destruídos: carros, motas, bicicletas. / ex. 4: A flor estava destruída: as pétalas desfeitas, o caule quebrado, as raízes podres. / ex. 5: O polícia controlava o trânsito e passava coimas aos infractores. / ex. 6: A chuva batida, o vento corrido, os relâmpagos faiscantes tornavam a tempestade medonha).
     Neste último caso, a cadeia referencial constrói-se (daí também poder falar-se de coesão referencial), só que apoiada em mecanismos léxicos, não gramaticais.

      Trabalhar na consciência e na reflexão explícita destes mecanismos, das possibilidades de progressão, da gestão de informação e dos raciocínios lógicos associados é um percurso que coloca a gramática ao serviço de competências de leitura e de escrita.
    

3 comentários:

  1. Trata-se, portanto, de colocar conteúdos ao serviço do desenvolvimento de competências.
    Já agora: a coesão referencial creio que aparece na gramática da Prof. Inês Duarte e outras autoras(Caminho Ed.); creio que é mesmo ela a autora da secção da coesão textual.
    Mas no DT creio que não surge.

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  2. Prezado(a) leitor(a),

    O teor do seu comentário merece-me uma abordagem mais aprofundada, pelo que a disponibilizarei em 'post' próprio, autónomo, com informações adicionais. Neste sentido, aconselhá-lo(a)-ia a consultar uma mensagem mais actualizada.
    Grato pela atenção e pelo interesse despertados, bem como pela oportunidade de maior explanação da minha parte.

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  3. Obrigado pela atenção. Estarei atento.

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