sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

De regresso à coesão... a partir da posição

    Questões de sintaxe (e não só) na sua relação com coesão.

Q: Colega, acha que a posição dos elementos na frase também tem a ver com questões de coesão?

R: Há, por certo, relações entre os dois domínios, tomando em linha de conta a abordagem implicada em termos de superfície dos enunciados ou na constituição sintagmática das sequências frásicas.
    Por exemplo, o posicionamento das subordinadas adverbiais não deixa de concorrer para a natureza coesiva das frases nos textos / discursos. Aquelas ocorrem, normalmente, numa posição posterior (1) ou anterior (2) ao segmento subordinante:

  (1) Chama-me a qualquer momento se precisares de ajuda.
  (2) Se precisares de ajuda, chama-me imediatamente.

      A colocação das subordinadas adverbiais condicionais exemplificadas aponta, desde logo, para uma relação directa com graus distintos de integração face à sequência subordinante: semanticamente, a proposta (1) exemplifica uma subordinada adverbial em posição final, tendencialmente sugerindo conexões mais estreitas com a subordinante ou frase matriz (daí também a inexistência de vírgula na escrita ou de pausa na oralidade). O mesmo pode ser verificado em (3):

      (3) A questão foi colocada porque no nosso dia-a-dia não há soluções para resolver todos os problemas.

      Numa perspectiva de análise do discurso, uma subordinada adverbial em posição inicial - como em (2) - prende-se com um conjunto de relações textuais mais amplo, considerando os enunciados que a precedem; proporciona um enquadramento ou esquema mental para as sequências que se lhe seguem; é comummente marcada por vírgula / pausa a delimitá-la da subordinante, o que, consequentemente, pode evidenciar um grau de integração mais fraco face a esta última sequência.
     Atentando num exemplo como (4), manifesta-se uma maior integração da subordinada final do que o enquadramento proposto com a causal inicial (não obstante o encadeamento e a natureza modificadora de ambas as sequências):
    
     (4) Dado o estudo nem sempre ser suficiente para um bom resultado, poderás necessitar de ajuda para encontrar estratégias complementares.

      A posição dos segmentos frásicos presta-se igualmente à consideração de questões ligadas à estrutura informacional: numa frase complexa, a sequência inicial pode apoiar-se em informação encarada como já conhecida, enquanto a final se apoia em informação nova. Em (3), a frase matriz surge à cabeça, com o grupo nominal 'A questão', pressupondo um discurso anterior, no qual já tenha sido feita referência a 'uma questão'. Já em (4) sucede o contrário: a subordinada causal toma como conhecido o facto de o estudo não ser razão suficiente para um bom resultado, encaminhando-se, assim, a subordinante e a subordinada final para a apresentação da informação nova.
   
     Sintaxe, pragmática, progressão de informação: domínios que concorrem para uma gramática da língua feita de corpo inteiro.

2 comentários:

  1. Boa noite!
    Podem esclarecer-me sobre o seguinte?
    Por que razão se chama adverbial à oração condicional?

    Se precisares de ajuda, chama-me imediatamente.

    Que relação tem com advérbios? Agradeço uma resposta que pudesse ser dada a um aluno de ensino secundário que fizesse esta pergunta. E entendida... O mesmo para as outras adverbiais.
    Obrigado.

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  2. Caro anónimo,

    O interesse da questão faz-me autonomizar a resposta numa mensagem nova, que procurarei construir proximamente.
    Grato pela atenção e "boas viagens" nesta carruagem.
    Cumprimentos

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