domingo, 26 de dezembro de 2010

Mais desafios, a partir de dúvidas

    Na linha de alguns desafios linguísticos, cá vai mais um, na sequência de uma dúvida colocada a propósito de uma mensagem anterior.

     Q: Boa noite! Podem esclarecer-me sobre o seguinte? Por que razão se chama adverbial à oração condicional? (ex.: Se precisares de ajuda, chama-me imediatamente). Que relação tem com advérbios? Agradeço uma resposta que pudesse ser dada a um aluno de ensino secundário que fizesse esta pergunta. E entendida... O mesmo para as outras adverbiais. Obrigado.

      R: Viva!
     Adverbial é a designação para dar conta de uma unidade estrutural sintáctica constituída quer pela classe dos advérbios quer por expressões equivalentes (grupo nominal, grupo preposicional, grupo frásico ou oracional) quanto à posição e à funcionalidade significativa.
     Assim, numa frase como (1), pode ocorrer, no lugar do advérbio (em itálico), todo um outro conjunto de unidades que, por substituição, corresponderia a um adverbial (expressão) com a mesma distribuição e/ou ao mesmo tipo de informação (no caso, de frequência temporal):

(1) Os alunos lêem um livro mensalmente.
(1a)                                    todos os meses.
(1b)                                    em cada um dos meses.
(1c)                                    sempre que dão entrada num novo mês.

       No caso da frase “Se precisares de ajuda, chama-me imediatamente”, o itálico aponta para o que já a gramática tradicional designava como uma subordinada adverbial, em contraste com as subordinadas substantivas e as adjectivas.
      Tal designação associa-se a duas propriedades que geralmente marcam as primeiras:
. a possibilidade de comparecerem numa construção clivada (ex.: É [só] se precisares de ajuda que me chamas imediatamente);
. a capacidade de ocorrerem em posição inicial (como no exemplo de partida), medial (ex.: Chama-me, se precisares de ajuda, imediatamente) ou final (ex.: Chama-me imediatamente, se precisares de ajuda).
       Ao caso em concreto, acresce o facto de a subordinada concorrer ainda para a seguinte caracterização típica dos adverbiais: é suprimível, atendendo à estrutura argumental do verbo da sequência subordinante (chamar), o que, consequentemente, dá conta da sua natureza de modificador.

       Considero que os testes de substituição, comutação / permuta; comparação contrastiva e manipulação frásica são as melhores formas de demonstração junto dos alunos, como estratégia de construir a explicitação dos raciocínios e do conhecimento da língua.

4 comentários:

  1. Dr. Vítor Oliveira, obrigada. Fiquei bastante esclarecida; mas vou agora estudar o assunto e, provavelmente, regressarei.

    ResponderEliminar
  2. Prezada anónima,

    Fico satisfeito por ter ajudado em alguma coisa; mas, de facto, nada como o estudo para consolidar. Como referência, diria que o capítulo 17 (produzido pela Profª. Drª. Ana Maria Brito) da 'Gramática da Língua Portuguesa', publicação coordenada pela Profª. Drª. Maria Helena Mira Mateus e editada pela Caminho, é essencial.
    De resto, esteja sempre à vontade para entrar nesta "carruagem".
    Cumprimentos.

    ResponderEliminar
  3. «Subordinação adverbial», p. 695 da obra que amavelmente indicou e tenho em casa. Vou começar a ler o capítulo. A ver se tenho estofo...
    Obrigada.

    ResponderEliminar
  4. Isso mesmo.
    Já por lá andei muitas vezes, entre 'estradas largas e iluminadas' e alguns 'becos escuros'; mas lá cheguei ao fim.
    Ao dispor.

    ResponderEliminar