De novo a sintaxe... e cada uma mais difícil!
R: A distinção entre modificadores da frase e modificadores do predicado (ou do grupo verbal) pode ser verificada através dos seguintes testes:
(a) *Foi felizmente que tive boa nota?
(b) *Não felizmente tive boa nota no teste.
. os segundos admitem-nos, pela própria natureza adjunta do advérbio / da expressão adverbial (integram o predicado):
Ex.: Comprei um carro novo, no ano passado / No ano passado, comprei um carro novo.
(a) Foi no ano passado que comprei um carro novo?
(b) Não no ano passado mas na semana passada, comprei um carro novo.
Ex. Sub. Adv. Condicional: 'Se tiveres bom resultado, dou-te uma prenda'
a) * É se tiveres bom resultado que te dou uma prenda?
b) * Não se tiveres bom resultado, dou-te uma prenda.
Ex. Sub. Adv. Causal: 'Não tiveste bom resultado porque não estudaste o suficiente'
c) É porque não estudaste o suficiente que não tiveste bom resultado?
d) Não tiveste bom resultado não porque não estudaste o suficiente, mas porque não interpretaste bem as questões.
Ela é tão simpática como muita gente que eu conheço. (Subordinadas comparativas)
Não é por acaso que estes dois tipos de construção se integram no que se designa por construções subordinadas de graduação (admitindo que os adjectivos e os advérbios são as classes que especificamente admitem a variação em grau).
Q: Nas funções sintácticas, não é fácil perceber a diferença entre as que modificam toda a frase (por exemplo, as condicionais) e as que modificam apenas o predicado (por exemplo, as causais). Além disso, não se encontra em lado nenhum a função sintáctica das consecutivas nem das comparativas. Parece que estas últimas não podem ser consideradas modificadores, mas sim complementos; mas de que tipo?
R: A distinção entre modificadores da frase e modificadores do predicado (ou do grupo verbal) pode ser verificada através dos seguintes testes:
. os primeiros não admitem o teste de interrogação (com estrutura clivada do tipo 'é que') nem o da negação, pela própria natureza disjuntiva do advérbio ou da expressão adverbial (exteriores ao predicado):
Ex.: Felizmente, tive boa nota no teste.(a) *Foi felizmente que tive boa nota?
(b) *Não felizmente tive boa nota no teste.
. os segundos admitem-nos, pela própria natureza adjunta do advérbio / da expressão adverbial (integram o predicado):
Ex.: Comprei um carro novo, no ano passado / No ano passado, comprei um carro novo.
(a) Foi no ano passado que comprei um carro novo?
(b) Não no ano passado mas na semana passada, comprei um carro novo.
. os primeiros andam mais relacionados com questões de modalidade (posicionamento do sujeito locutor relativamente ao enunciado / ao conteúdo proferido) enquanto os segundo associam-se tipicamente às circunstâncias em que o predicado ocorre (de tempo, modo, lugar).
Alguns casos podem ser portadores de ambiguidade, mas há diferenças evidentes: na frase "Ele morreu naturalmente", o modificador do grupo verbal respeita os testes anteriores; já em "Naturalmente, ele morreu", o modificador é frásico (e obedece à lógica dos testes inicialmente expostos), revelador da atitude do locutor face ao enunciado proferido.
Por estas mesmas razões, consideram-se as subordinadas adverbiais condicionais modificadores da frase (disjuntos, exteriores ao predicado), enquanto as causais assumem um comportamento mais semelhante aos modificadores do grupo verbal (adjuntos, internos ao predicado):
Por estas mesmas razões, consideram-se as subordinadas adverbiais condicionais modificadores da frase (disjuntos, exteriores ao predicado), enquanto as causais assumem um comportamento mais semelhante aos modificadores do grupo verbal (adjuntos, internos ao predicado):
a) * É se tiveres bom resultado que te dou uma prenda?
b) * Não se tiveres bom resultado, dou-te uma prenda.
Ex. Sub. Adv. Causal: 'Não tiveste bom resultado porque não estudaste o suficiente'
c) É porque não estudaste o suficiente que não tiveste bom resultado?
d) Não tiveste bom resultado não porque não estudaste o suficiente, mas porque não interpretaste bem as questões.
Quanto às comparativas e consecutivas, a dependência face à subordinante (até pela própria falta de mobilidade) é uma evidência que requer a consideração da construção sintáctica dessas subordinadas como estando mais próximas de formas de complementação. Estas devem ser entendidas enquanto fenómeno de complementação interna.. Tal como um grupo nominal admite modificadores ou complementos internos (modificador / complemento do nome) também as subordinadas comparativas/consecutivas acabam por apresentar uma forma de complementação interna aos grupos adjectivais / adverbiais (conforme os casos) por elas configuradas. São uma forma de expansão seleccionada pelo adjectivo / advérbio (enquanto núcleo que surge complementado por um grupo frásico explícita ou elipticamente contemplado).
Ex.: Ela é tão simpática que não há ninguém que não a estime. (Subordinada consecutiva)
Ex.: Ela é mais / menos simpática do que muita gente que eu conheço.Ela é tão simpática como muita gente que eu conheço. (Subordinadas comparativas)
Não é por acaso que estes dois tipos de construção se integram no que se designa por construções subordinadas de graduação (admitindo que os adjectivos e os advérbios são as classes que especificamente admitem a variação em grau).
Por aqui se vê ainda algumas das limitações do que se foi aprendendo com a gramática tradicional: não podem pertencer a uma mesma categoria sintáctica mecanismos com características tão diferenciadas (relembre-se que, na gramática tradicional, as comparativas e as consecutivas estão integradas nas subordinadas adverbiais, tal como as condicionais, as temporais e outras mais).
Sem comentários:
Enviar um comentário