Muitas têm sido as questões que me são colocadas a nível da gramática: alunos, colegas, amigos... São desafios a que vou tentando dar resposta; aproximações, em função do que vou lendo, encontrando, reflectindo; procuras que podem sempre dar lugar a caminhos errados (nada como voltar para trás) ou becos sem saída... Os leitores (se os houver) assim o dirão.
Q: Como classificar sintacticamente (em todas as suas possibilidades) a frase ‘Mandei-o fazer o TPC’?
R: Trata-se de uma questão algo complexa, implicando o trabalho com noções de subordinação, transitividade verbal e causatividade.
‘Mandei-o fazer o TPC’ corresponderá a uma sequência não pronominalizada do tipo ‘Mandei o aluno fazer o TPC’. Isto significa que, da sequência subordinante ‘(Eu) Mandei’, se parte para uma subordinada não finita infinitiva: ‘o aluno fazer o TPC’. No fundo, há uma oração ou frase superior (subordinante), com sujeito subentendido [eu] e um predicado [mandei X]; este último, com o núcleo verbal [mandei] e o complemento directo X [correspondente a uma sequência frásica dependente: o aluno fazer o TPC]. Este não deixa de ser também ele constituído por um sujeito [o aluno] e um predicado que integra outro complemento directo [fazer o teste].
Esquematicamente, dir-se-ia que:
Sequência superior (subordinante)
Sujeito (subentendido): Eu
Predicado: Mandei-o fazer o TPC
Complemento directo: ‘o fazer o TPC’ (cuja realização não pronominalizada seria ‘o aluno fazer o TPC’)
Sequência dependente (subordinada)
Sujeito: o aluno
Predicado: fazer o TPC
Complemento directo: o TPC
A partir daqui, a construção pronominalizada é explicada da seguinte forma: as sequências superiores marcadas por verbos causativos (como mandar, deixar, fazer) seguidos de uma completiva com sujeito lexicalmente marcado (neste caso, 'o aluno') obrigam este último, ao assumir a forma de pronome clítico, a ligar-se ao verbo da sequência subordinante e não da dependente ou subordinada. Trata-se da chamada ‘subida de clítico’ (uma das construções de elevação estudadas no Português). Está aqui também parte da lógica causativa: SUJ causador (eu) + V causativo (mandei) + CD obj/acontecimento (o aluno fazer o TPC). Desta forma, é admissível a construção pronominal com ‘o’, configurando-se o sujeito da subordinada como parte do CD da subordinante.
Por outro lado, o verbo ‘mandar’ vê, pela subida do pronome clítico, a sua transitividade revista, numa redistribuição dos papéis semântico-sintácticos dos seus argumentos e numa reordenação dos complementos requeridos.
É um bom exemplo do que Tesnière, na perspectiva de uma gramática de valências, considera ser a “diátese causativa”.
Há exemplos que eu, seguramente, deixaria para serem trabalhados ao nível do ensino superior ou da formação docente. Há casos bem mais simples e/ou regulares, sistemáticos para trabalhar com os alunos.
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