Eis um filme que desconcerta qualquer ser humano.
É daquelas películas a ver quando sentimos que tudo está mal connosco - rapidamente nos apercebemos do nosso mal menor, dado o efeito de real para que a ficção nos transporta.
O contexto histórico da Segunda Guerra Mundial e o percurso da personagem Władysław Szpilman (interpretado pelo oscarizado Adrien Brody) são um retrato de um tempo e um mundo em ruínas, nos quais a vida se confronta continuamente com o perigo, a ameaça do fim. O começo da Segunda Guerra Mundial e a invasão da Polónia (em 1 de Setembro de 1939) condicionam a vida de Szpilman, na deterioração crescente a que população judia se viu votada: com limitação na circulação de dinheiro, com faixas identificadoras da sua origem, com o abandono das casas e dos bens, com a separação dos núcleos familiares, com a fome e a perseguição humilhante que a acompanhou para os guetos e para os campos de concentração / aniquilação.
A sobrevivência da personagem principal faz-se à custa da separação da família, da sua integração no trabalho escravo, do seu esforço de fuga a todo o tempo praticamente ameaçado, da sua iminente morte à mão dos próprios salvadores russos (que o vêem com um casaco alemão vestido).
Trailer de O Pianista (2002), realizado por Roman Polanski.
Assistindo às acções de resistência, sem nelas poder participar, Szpilman é descoberto, na fuga final, pelo capitão Wilm Hosenfeld (Thomas Kretschmann). Entre eles, a música compõe a união de perseguido e perseguidor, a ponto de este último se tornar no seu salvador (levando-lhe comida e deixando-o esconder-se nos bairros arruinados pelos nazis).
Uma das cenas mais significativas do filme: o entendimento do perseguido e do perseguidor pela música
(Balada nº 1, op. 23 de Chopin)
(Balada nº 1, op. 23 de Chopin)
Com esta protagonista na vida de Szpilman (tanto na vida feliz como na que o fez contactar directamente com as mais diferentes formas de terror), a música torna-se das únicas notas de felicidade e harmonia existentes na intriga fílmica, mesmo quando a personagem ora não se pode dar a ouvir no toque do piano ora não tem o instrumento musical senão na própria mente, Porque esteve sempre lá, a música é símbolo da diferença no crime e no caos instalados (é interrompida no início da película; impõe-se na última cena); é o registo de um final feliz para um filme triste, francamente duro, penoso na apresentação dos atos perversos, sádicos e aniquiladores do regime nazi.
O Pianista é uma produção cinéfila já com oito anos (o filme data de 2002), mas ainda suficientemente forte para, a par de A Lista de Schindler (1993), A Vida é Bela (1997) e O rapaz do pijama às riscas (2008), fazer lembrar o holocausto de um período que não se pode ter repetido sob nenhum pretexto; para evocar a música (personagem principal de muitos filmes) que, no caso presente, um Chopin deu à Humanidade.
Dirigido por Roman Polanski (também agraciado com o Óscar de Melhor Realizador), O Pianista apoia-se na autobiografia homónima escrita pelo músico polaco Władysław Szpilman e constitui-se como tributo à sobrevivência ou grito de alerta para a desumanização que, infelizmente, emerge em tempos de guerra.
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