segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

'O Pianista' - da História à Música

      Eis um filme que desconcerta qualquer ser humano.

    É daquelas películas a ver quando sentimos que tudo está mal connosco - rapidamente nos apercebemos do nosso mal menor, dado o efeito de real para que a ficção nos transporta.
   O contexto histórico da Segunda Guerra Mundial e o percurso da personagem Władysław Szpilman (interpretado pelo oscarizado Adrien Brody) são um retrato de um tempo e um mundo em ruínas, nos quais a vida se confronta continuamente com o perigo, a ameaça do fim. O começo da Segunda Guerra Mundial e a invasão da Polónia (em 1 de Setembro de 1939) condicionam a vida de Szpilman, na deterioração crescente a que população judia se viu votada: com limitação na circulação de dinheiro, com faixas identificadoras da sua origem, com o abandono das casas e dos bens, com a separação dos núcleos familiares, com a fome e a perseguição humilhante que a acompanhou para os guetos e para os campos de concentração / aniquilação.
       A sobrevivência da personagem principal faz-se à custa da separação da família, da sua integração no trabalho escravo, do seu esforço de fuga a todo o tempo praticamente ameaçado, da sua iminente morte à mão dos próprios salvadores russos (que o vêem com um casaco alemão vestido). 

Trailer de O Pianista (2002), realizado por Roman Polanski.
    
   Assistindo às acções de resistência, sem nelas poder participar, Szpilman é descoberto, na fuga final, pelo capitão Wilm Hosenfeld (Thomas Kretschmann). Entre eles, a música compõe a união de perseguido e perseguidor, a ponto de este último se tornar no seu salvador (levando-lhe comida e deixando-o esconder-se nos bairros arruinados pelos nazis).

Uma das cenas mais significativas do filme: o entendimento do perseguido e do perseguidor pela música
(Balada nº 1, op. 23 de Chopin)
   
   Com esta protagonista na vida de Szpilman (tanto na vida feliz como na que o fez contactar directamente com as mais diferentes formas de terror), a música torna-se das únicas notas de felicidade e harmonia existentes na intriga fílmica, mesmo quando a personagem ora não se pode dar a ouvir no toque do piano ora não tem o instrumento musical senão na própria mente, Porque esteve sempre lá, a música é símbolo da diferença no crime e no caos instalados (é interrompida no início da película; impõe-se na última cena); é o registo de um final feliz para um filme triste, francamente duro, penoso na apresentação dos atos perversos, sádicos e aniquiladores do regime nazi.
   O Pianista é uma produção  cinéfila já com oito anos (o filme data de 2002), mas ainda suficientemente forte para, a par de A Lista de Schindler (1993), A Vida é Bela (1997) e O rapaz do pijama às riscas (2008), fazer lembrar o holocausto de um período que não se pode ter repetido sob nenhum pretexto; para evocar a música (personagem principal de muitos filmes) que, no caso presente, um Chopin deu à Humanidade.

    Dirigido por Roman Polanski (também agraciado com o Óscar de Melhor Realizador), O Pianista apoia-se na autobiografia homónima escrita pelo músico polaco Władysław Szpilman e constitui-se como tributo à sobrevivência ou grito de alerta para a desumanização que, infelizmente, emerge em tempos de guerra.

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