domingo, 1 de agosto de 2010

Poesia, voz e fado

   Para lembrar que "Há palavras que nos beijam".
  
    Nos versos de Alexandre O'Neill combinam-se os sons e a voz que Mariza faz chegar aos nossos ouvidos, na composição musical de Mário Pacheco. Assim se casa poesia, voz e fado.


          Há palavras que nos beijam

Há palavras que nos beijam
Como se tivessem boca,
Palavras de amor, de esperança,
De imenso amor, de esperança louca.

Palavras nuas que beijas
Quando a noite perde o rosto,
Palavras que se recusam
Aos muros do teu desgosto.


De repente coloridas
Entre palavras sem cor,
Esperadas, inesperadas
Como a poesia ou o amor.


(O nome de quem se ama
Letra a letra revelado
No mármore distraído,
No papel abandonado)


Palavras que nos transportam
Aonde a noite é mais forte,
Ao silêncio dos amantes
Abraçados contra a morte.

Alexandre O'Neill, in No Reino da Dinamarca (1958)

      A mesma composição surge com um outro casamento vocálico e rítmico, que pode ser encontrado neste fado de Cristina Branco:


      Em cinco quadras de verso livre, alguns a rimar e outros nem por isso, ressalta uma linguagem acessível na apologia das palavras, das que são portadoras dos sinais de afetividade e felicidade; das que não dão lugar ao desgosto; das que materializam "O nome de quem se ama" (independentemente do suporte).
        Entre a expressão do bem e o sentido de liberdade, surgem as palavras positivas, como se de amor, de poesia e de magia se tratasse. E na confluência destes há cor, sensações que libertam / valorizam o Homem.

       Mais uma razão para se passar "Das palavras aos actos" (que, feitos de palavras que nos beijam, são menos moralistas e mais afectivos).

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