Provas de que, na língua, o tempo faz diferença.
A propósito de conquistas do século XII, aparece, num documento do século XVII, um dado descrito nos seguintes termos:
"Ganharão-se as Villas de Abrãtes e Torres Novas, ambas muyto fortes em o sitio, fermeza de muros e castellos (...)."
(Frei António Brandão, in Monarquia Lusitana, 1632)
Para além de questões ortográficas e da representação mais ou menos próxima de realizações fónicas, destaco a colocação pronominal clítica na primeira forma verbal: no contexto actual da mesóclise ('ganhar-se-ão'), há registo escrito de que há quase quatro séculos se fazia (dizia?) o que os alunos hoje em dia teimam em usar nos seus discursos orais / escritos.
Tratando-se de um caso crítico a privilegiar no trabalho de língua, o que hoje se explica como uma evidência de composição histórica na língua portuguesa, com repercussões morfossintácticas (aproximando a conjugação pronominal de verbos no futuro e no condicional), parecia mais natural, menos complexo em estádios linguísticos anteriores.
Quantos alunos não gostariam que retomássemos esse tempo (pelo que dizem e pelo que escrevem).
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