domingo, 4 de março de 2018

Um condicional muito factual

    A propósito de História que daria um Livro... e deu mesmo!

    Foi ontem divulgada mais uma publicação do escritor e amigo Manuel Maria - uma produção, uma apresentação que ganhou nota de foro pessoal, não só pelo convite amigo que me foi endereçado (e permitiu o reencontro com pessoas de bem) mas também pelo facto de me ter, surpreendentemente, deparado com um romance que me foi dedicado.
    Abri-o. Sorri com a leitura das primeiras linhas, antevendo um José António tão feito de Manuel Maria quanto marcado pelo azul (quer pela nobreza de caráter quer pelo amor ao Futebol Clube do Porto). Será o reencontro com uma personagem que conheço desde a leitura de Checa é Pior que Turra (1996).
    Relembrado de como uma carta deste romance foi transcrita nas páginas de um manual de Português de que fui coautor, o capítulo VII da História que daria um Livro sublinha precisamente esse dado, num diálogo entre as personagens Estela e Silvana (Sissi):

   "- Procuro um livro. É sobre a guerra colonial. Vem aí o aniversário do Tito e gostaria que as filhas lho oferecessem. Tenho a certeza de que iria gostar. Apesar do divórcio, a sua relação com as miúdas continua a ser exemplar.
    - Ainda bem.
    - Acho que é o mínimo que nos resta.
    - E que livro é?
    - Chamou-me a atenção, porque tem uma carta de Natal reproduzida no manual de Português da mais nova.
    - Da Luna...
    - Sim.
   Abriu a pasta e retirou um manual de 10º ano, Das Palavras aos Actos, Edições ASA. Tinha uma marcador na página 152. Em fundo cinza, uma citação da obra a ocupar quase toda a página; no canto superior direito, um mapa do continente africano, com a localização exata de Moçambique, além da Península Ibérica, a norte, com o retângulo de Portugal. À margem, à esquerda, uma miniatura, a preto e branco, da capa do romance Checa é Pior que Turra.
    - Conheces? - Perguntou Estela.
   - Não. Não tenho ideia de o ter visto cá, mas deixa que chame o Zé António, que está no primeiro andar a arrumar uns livros. Pode ser que ele conheça."

      Conhecerá ele, por certo, a carta que escreveu, publicada num manual que cita um livro escrito por Manuel Maria. Como este último terá chegado à carta de José António, diria que são "contas de um outro rosário".

    Resta-me agradecer ao Man(u)el que tenha feito registar neste seu novo livro, quase vinte anos passados, um pedaço das nossas vidas, de projetos comuns, perdurados numa narrativa que certamente irei ler com a atenção que merece e com o desafiante sentido de como a ficção pode inspirar-se numa realidade que ultrapassa a(s) sua(s) fronteira(s).

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