Em jeito de balanço das eleições para o Parlamento Europeu.
Muito anuviado anda o contexto eu-ropeu: a questão da imigração, da solida-riedade e do acolhi-mento de refugiados não-europeus, por vezes, mais retórica do que prática, criando divisionis-mos que se afiguram inultrapassáveis nas diversas sensibilida-des governativas; a afirmação de ideologias de extrema direita, com focos estruturais em países de referência (económica e/ou cultural), necessariamente preocupante para o ideário de liberdade europeu; os movimentos independentistas que evidenciam orientações distintas face a algum sentido de paz e de integração dos países e do continente; a regressão económica que a Europa tem revelado à medida que as décadas avançam e o alargamento / a adesão à união cresce; as desigualdades territoriais e sociais que persistem, na constatação de que os piores mercados estão alocados naquela que é a união monetária com mais sinais de crise (pelo menos para alguns dos países que dela fazem parte); um Brexit com mais dissensos do que soluções à vista; um olhar para uma Turquia tendencialmente autocrática enviesado por interesses geopolíticos, militares e económicos que pouco têm de pacíficos, tolerantes, solidários ou integradores. Tudo isto se reflete em resultados eleitorais que, em Portugal, pouco ou nada têm de claro.
Nenhum partido pode, em consciência, declarar-se verdadeiramente vencedor, não obstante o maior número de votos nas urnas para um deles. A abstenção é de uma percentagem enorme, essa sim, mais do que clara, colocando os candidatos a deputados europeus (e os partidos que os propuseram) a responsavelmente refletir sobre a sua representatividade no que ao país diz respeito. Além disso, movimentação de votos, ora para o PAN (Pessoas, Animais e Natureza) ora para o BE (Bloco de Esquerda), para não falar da própria abstenção, é também visão estratégica de insatisfeitos, por mais que esta última possa parecer pouco consistente. Não o é, por certo, para quem vê a inconsistência de algumas cores partidárias, na ação governativa ou na oposição, deslegitimando / apagando, por exemplo, o tempo de trabalho exercido por várias profissões ditas "especiais" do funcionalismo público (tão assim que a "especialidade" se torna mais do que discutível - só retórica, mesmo).
Porque não posso ter uma Europa a pactuar com políticas deste tipo, não contribuo para uma(s) cor(es) que, em Portugal, acha(m) ou aceita(m) que trabalhadores vejam o seu tempo de exercício profissional apagado, seja em que ofício, função, serviço ou profissão for. Voto e faço-o pelo dever de construir ou, no mínimo, expressar a escolha, o desejo de alternativas a considerar face ao mal-estar presente - que, de lá para cá ou de cá para lá (não interessa), só permite a felicidade de alguns poucos, não desse bem comum mais ajustado ao sentido mais lato de política.
Para quem fala em vitórias claras ou expressivas, muitas são as nuvens ofuscantes. A brincadeira das guerrinhas políticas só diverte quem nelas participa. Quem assiste a este deplorável espetáculo começa a perder a paciência (já a perdi há muito)! Para quem teve derrotas, foram mais do que merecidas - boa oportunidade para repensarem as orientações políticas, tanto nacionais como internacionais. Dizer que os portugueses perceberam a mensagem com os resultados obtidos, limitada à leitura quantificada da vitória, só pode ser exercício retórico ou cegueira na afirmação de poder (vão e tão volátil, que deita por terra e no descrédito qualquer deslumbrado, mais cedo ou mais tarde). Não percebem, senhores, seja pelo que cá acontece seja pelo que a Europa dá a ver. E, pelos vistos, não são os únicos.Uma abstenção superior a sessenta e cinco por cento é a maior prova disso - lamentável não o querer ver ou, com sorrisos e alegrias inconvenientes, afirmar que não é isso o que se deve destacar. É colorido a mais, adjetivo excessivo.
E, depois, não insistam em refletir sobre o problema da abstenção. É melhor passar aos atos que permitam diminuí-la.
E, depois, não insistam em refletir sobre o problema da abstenção. É melhor passar aos atos que permitam diminuí-la.
Valha, ainda assim, a pluralidade de cores que se antevê no círculo do Parlamento Europeu, a motivar negociações, compromissos plurais e de sensibilidades (esperemos) mais focadas nos valores da dignidade social e humana.
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