sábado, 8 de novembro de 2025

Diminuir não é acrescentar

     Isto de colocar um 's' onde ele não existe é, no mínimo, crítico.

   Numa consciência sincrónica de procedimentos morfológicos na língua, é verdade que a negação, a inversão e/ou o contrário do que uma palavra significa se conseguem, frequentemente, com o prefixo 'des-' (calçar > descalçar; crer > descrer; enterrar > desenterrar; entupir > desentupir; fazer > desfazer; instalar > desinstalar; ligar > desligar; necessário > desnecessário; preocupar > despreocupar; tratar > destratar).
    O mesmo não sucede com algumas outras, não obstante o seu uso em rodapé ou legenda televisivos:

Estas legendas andam uma negação completa... na língua (agradecimento à MPM, pela atenção)

    Por certo algo diminui (progressivamente); é o inverso ou o contrário de 'crescer', mas não se constrói, na verdade, com o prefixo 'des-'. Enquanto antónimo de 'crescer', 'decrescer' requer uma abordagem que não pode escapar à história da língua e à noção etimológica do termo: remonta ao latim 'decrescere', que significa "crescer menos, diminuir." Nele há um prefixo latino ('de-'), que indica "afastamento", cuja consciência corrente não está na mesma linha da consciência morfológica sincrónica.
   Neste sentido, é mais por via etimológica ou da história da língua que 'decrescer, decrescendo, decrescido, decrescente, decrescimento' se explica; complementarmente, o conceito morfológico da família de palavras, neste caso em intersecção com a etimologia, é o que pode ser convocado para que não surjam, na escrita, erros como o assinalado na imagem.
    Enquanto afixo dos mais produtivos no português contemporâneo, “des-” convoca inevitavelmente, para o seu estudo, uma plataforma entre morfologia e etimologia, num entrecruzamento de diversos estádios da língua (com semelhanças formais e semânticas, entre ambos os afixos), na senda do que se prefigura como prefixo neolatino (“des-”) em interseção com alguns elementos formativos de origem latina ('de-', 'dis-' e 'ex').

     Se 'decrescente' se cruza com a 'descida' de algo, não se confundam as sílabas iniciais nem se misture a primeira com um prefixo que, podendo aparecer em muitas palavras portuguesas atuais, está historicamente distante de qualquer crescimento. 

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