sábado, 9 de novembro de 2024

A propósito do Muro de Berlim

      Mais de sete anos passados, vi o muro cuja queda (de há trinta e cinco anos) é hoje celebrada.

   O "Berliner Mauer" foi a barreira física erguida pela República Democrática Alemã (Alemanha Oriental - socialista) durante a Guerra Fria. Circundava toda a Berlim Ocidental (capitalista), separando-a da Alemanha Oriental (socialista), incluindo Berlim Oriental. Além da divisão da cidade ao meio, simbolizava dois blocos e duas visões políticas do mundo: a da República Federal da Alemanha (RFA), constituída pelos países capitalistas encabeçados pelos Estados Unidos da América; a da República Democrática Alemã (RDA), composta pelos países socialistas sob o regime soviético. 
     Iniciada a construção na madrugada de 13 de agosto de 1961, veio a ser derrubado a 9 de novembro de 1989. Em diversos pontos de Berlim pode ver-se, no chão, trilhas com placas de ferro e a inscrição “Berliner Mauer 1961-1989”. 

Placas da trilha do "Berliner Mauer" (Foto VO)

       Marca-se, desta forma, o percurso por onde o muro passava e dá-se visibilidade a uma iniciativa que visa, com o passar do tempo, lembrar uma época que ninguém deve esquecer, no que a motivou e no que representou.
       Por abril de 2017, a par das gruas e dos tubos de drenagem que denotavam as múltiplas construções na cidade, o que restava do Muro de Berlim apresentava, em Kreuzberg, mais de cem pinturas de artistas de todo o mundo, iniciadas em 1990 no lado leste do muro de Berlim. 

Um muro gradeado numa capital em obras (Foto VO)

      Assim vê o turista a designada "East Side Gallery", uma galeria de arte ao ar livre situada junto à margem do rio Spree (no lado leste do antigo muro), fundada após a bem sucedida fusão de duas associações de artistas alemães: a VBK e a BBK. Os membros fundadores foram Bodo Sperling, Barbara Greul Aschanta, Jörg Kubitzki e David Monti. 

O "Beijo Fraterno" ao meio (entre o presidente russo Brejnev e o chefe oriental alemão Honecker),
a simbolizar o fim da cortina de ferro, segundo pintura do russo Dmitri Vrubel
(Foto VO)

      O trecho mais famoso do que resta do muro fica na Mühlenstraße, ao longo do rio Spree, entre a Ostbahnhof e a ponte Oberbaumbrücke.
     Isto de apanhar o muro de Berlim com gradeamento não está com nada, mas foi o que se pôde arranjar. Valeu ter encontrado o "Porto Pirata", escrito ao fundo (em cor azul, claro está!):

A presença de uma grande cidade no muro de uma capital europeia (Foto VO)

       Não esquecer, também, aquele conhecimento que não deixa de ser inspirador no seio de um pensamento que, no mínimo, se revela revolucionário e inconformista:

E esta, hein?! Igualdade e inclusão em múltiplos sentidos, no seu melhor. (Foto VO)

       Das boas lembranças (e boa companhia) de uma viagem à memória histórica de um tempo que passa e hoje se revê com outros muros, não menos segregacionistas (também a derrubar... a bem da arte e da humanidade).

quinta-feira, 7 de novembro de 2024

Lua escondida

      Fotografar a noite e o luar pode dar em "pintura".

     Parece mais isso do que fotografia. Diria até que o desfocado resulta em artístico, com os efeitos de luz a compor um quadro fotográfico, no qual o contraste e o flash da máquina refletem um momento feliz: com ramagem, raiado, difusão de cores e a sensação de que o negro noturno deixa clarear, brilhar e dourar instantes da caminhada.

A ramagem da árvore é o esconderijo da lua (Foto VO)

      É o que dá passear à noite e ver na ramagem de uma árvore o esconderijo da lua "em queda".

     Diz-me uma colega de Ciências Físico-Químicas que "Newton, no séc. XVII, explicou por que razão a maçã cai para a Terra e a Lua não." Lá está: a queda só pode ser metafórica ou a tradução de um efeito de ilusão (de ótica).

domingo, 3 de novembro de 2024

Da ilusão do poder

    No cruzamento de várias teorias sobre o poder nas organizações, há (tem de haver) sempre o momento da relativização, da discussão e da contestação do mesmo.

      Autores como French Jr. e Raven, no final dos anos cinquenta, identificaram cinco tipos de poder assentes numa perspetiva social (tendo em conta a fonte de poder, bem como a relação entre o seu portador e um outro agente / ator organizacional): poder de recompensa, coercitivo, legítimo, do especialista e de referência. 
       A ilustração seguinte exemplifica bem, no foco do portador, o que se denomina de coercitivo:


Uma reflexão "poderosa" acerca do exercício de poder

    Há algum sentido de justiça e de recompensa, pelo foco de uma contingência que o portador não considerou e, nesse sentido, o fez perder autoridade legítima / legitimada (por mais racional-legal ou tradicional que fosse, de acordo com o modelo organizacional de Weber). 
     Sem o poder de especialista ou de referência configurado, num eventual exercício de controlo de recursos (raros), pode lá uma flor ou planta  sobreviver com "líderes" do calibre de Calvin!
      Reconheça-se que, nas organizações, existem sentidos difusos de poder, a vários níveis; de partilha, de concertação em que a comunicação pode e faz a diferença. Entenda-se que nenhum "poderoso" tudo controla e que fatores contingenciais podem contribuir para a regulação de excessos. 

       Neste mundo, tem de haver (esperança vã?) chuva a limpar quem se revela ditadorzeco e manipulador de opinião, com evidentes sinais de egocentrismo, de atos e de linguagem rude, grosseira, desacreditada pelos valores democráticos, de participação e inclusão (mesmo quando alguém os legitime para o exercício de poder).