terça-feira, 24 de abril de 2012

Sonho, vontade, vida...

    Na véspera da revolução e nos tempos anteriores a ela, muitas eram as mensagens voltadas para a ação - a vontade da realização, da afirmação de abril.

    A manhã e o dia viriam, depois de muitas lutas, de muitos sofrimentos e de se fazer sublinhar que "o sonho comanda a vida".


    Nestas palavras de António Gedeão (pseudónimo do professor de Física Rómulo de Carvalho) ecoava a vontade da mudança. Se a pedra filosofal (Lapis Philosophorum) era um dos principais objetivos dos alquimistas humanos medievais (em geral na Idade Média), muito se devia ao facto de se pretender, através dela, transmutar qualquer metal inferior em ouro ou mesmo seres do reino animal sem sacrífico de qualquer natureza. Outros viam nela o elixir da vida eterna, para lá de interpretações que a libertavam do físico e a posicionavam no plano espiritual. Era o plano do desejado, da forte vontade de concretização de um ideal.
    No poema, refere-se a Passarola Voadora, a lembrar Memorial do Convento, de Saramago - esse espaço alternativo onde ciência, trabalho, amor puro, visão e harmonia se conjugaram numa sociedade (a dos três Bs: Baltasar, Blimunda e Bartolomeu) construída a partir de um sonho, da vontade de constituir uma dimensão livre das desigualdades sociais, do ocultismo, da profanação dos valores humanistas, da farsa do poder, da perseguição dos que pudessem ter um entendimento distinto do oficialmente estabelecido. 
    É certo que o sonho comanda a vida, tal como a falta dele, do desejo, da vontade antecipa a morte. Faz, como o diz Blimunda, parecer morto aquele que na vida está.
    Abril veio. Terá ficado?

    Palavras sábias de quem tem uma perspetiva, uma visão, uns olhos que veem para além do comum mortal (e que tem tudo de verdade, por mais que elas surjam na dimensão do ficcional). Talvez a morte não esteja nem antes nem no fim da vida. Está na própria vida e no que nela e dela se perde. 

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