segunda-feira, 2 de abril de 2012

Sete (mágico) em tempo de morte

     Da magia do sete já muito se disse, mas, no que toca a este apontamento, na morte se fundou.

    Há sete anos, Karol Józef Wojtyła passou a existir exclusivamente na memória, dos cristãos e não só. Dir-se-ia mesmo de todos os crentes que assistiram aos seus quase 27 anos de papado, sob o nome de João Paulo II.
  Criticado pela sua oposição (ortodoxa) relativamente a temas como os do celibato dos padres, da procriação e da ordenação de mulheres e/ou de homens casados; pela construção interpretativa do terceiro segredo de Fátima, na qual se implicou como vítima; pela sua influência em áreas de intervenção dominantemente política, o sucessor do curto papado de João Paulo I não deixou de marcar positivamente a sua liderança religiosa pela imagem dada de aproximação a diferentes credos (judaísmo, igreja ortodoxa, igreja anglicana, islamismo), de afirmação no alívio e na superação do sofrimento humano, de pedido de perdão face aos silêncios que a sua Igreja assumiu em certos períodos da História.
    Proclamado Beato em 1 de Maio de 2011 (pelo Papa Bento XVI), este chefe da Igreja Católica Apostólica Romana inspirou-se nos jovens e na virtude da esperança por eles representado, de modo a tomar alguma irreverência como forma de a(tua)ção dirigida e preocupada com o outro. 
    De atitude, rosto e gesto afáveis, este foi o papa que atravessou o século XX para o XXI, movido por uma vocação e uma missão universal voltadas para a aproximação à santidade. Assim o evidenciou nos processos de canonização e beatificação dos muitos que souberam acompanhar o Homem no percurso de vida sofrida, libertando-o de dor maior. O exemplo de Madre Teresa de Calcutá foi seguramente o mais mediatizado, dadas a sua contemporaneidade com o pontificado e a aproximação espiritual com João Paulo II.
     Aquando da visita à catacumba ou "cemitério dos Papas", na Basílica de S. Pedro (Vaticano), tive a oportunidade de encontrar uma sepultura simples (o que não significa menos dispendiosa, por certo) entre os artificiosos, artísticos e ostensivos jazigos dos pontífices antecedentes: uma laje lisa, limpa e discreta, apenas comparável à do Papa Paulo VI (1963-78). Houve quem interpretasse, de forma despojada e adequada, o percurso de um padre, tornado bispo, nomeado cardeal, aclamado Papa, considerado "Venerável" e proclamado Beato. Como qualquer outro congénere, viveu muito do seu tempo no seio de um dos maiores tesouros culturais da Humanidade, capaz de matar a fome a meio mundo, quanto mais o de África. Não fez o que o Papa das 'Sandálias do Pescador' pretendia (e que eu tanto gostava que tivesse acontecido, mesmo em filme já antigo); porém, ao contrário de muitos deles, fez-se próximo, afetuoso e capaz de abrir ao mundo o sentido do que é ser cristão e católico.

    Uma lembrança em dia que a televisão exibiu, na RTP1, uma minissérie intitulada 'O Papa de Todos' - é esta a imagem que vou tendo deste papa (o mesmo não se dirá de muitos outros), cuja mensagem é sinteticamente reproduzida no pensamento de que "Não há nada mais sagrado ou precioso do que uma vida".


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