sábado, 8 de junho de 2013

Pacto de delicadeza com poesia na língua portuguesa

      Um balanço para um momento feito de canto e de palavras, com a delicadeza e a magia de uma voz.

    Mais conhecida como a abelha rainha da Música Popular Brasileira (MPB), Maria Bethânia partilhou com o seu público, nesta noite e no Teatro Nacional de São João, Bethânia e as Palavras: projeto que combina, intercaladamente e num fio condutor feliz, poesia em língua portuguesa, música e cantigas do repertório da artista.
     A iniciativa foi levada a cabo no e pelo Festival Internacional de Teatro de Expressão Ibérica (FITEI), no âmbito das comemorações do ano do Brasil em Portugal, numa demonstração dessa relação apaixonada que a cantora mantém com as palavras, desde os tempos de infância e da aprendizagem feita, na Bahia, com o professor-poeta Nestor Oliveira.
     Entre os versos de Carlos Drummond de Andrade, de Fernando Pessoa, de Dorival Caymmi, de Manuel Alegre, de Sophia de Mello Breyner Andresen; as palavras de Guimarães Rosa e as de mais alguns escritores e compositores brasileiros (dos mais populares aos mais eruditos), surgiram a oportuna e clarividente apologia à escola pública e ao professor que nesta ainda convoca a magia da voz e da palavra; a afirmação da poesia nos lugares mais recônditos, num apelo à liberdade e à busca de sonhos e de luz para um mundo de corre-corre ilustrado com cores que parecem não ter senão preto e branco.
     Assim foi o tempero de uma noite, numa sala de espetáculo animada com os ritmos, o embalo dançante e o toque baianos, numa cidade e num país ameaçados de morrer à míngua - um país de músicos e poetas com a pátria na sua própria língua.


    Três andamentos soaram nessa noite abobada por uma grande estrela, com lembranças, partilhas, ecos musicais e versificados no idioma que se triangula num Atlântico europeu e afro-americano e que não deixou de rumar ao Índico, ao Pacífico, espalhando que tudo “Foi por vontade de Deus”.

      Com a declamação do poema VIII de Alberto Caeiro; o canto da língua, da poesia, dos sonhos e da alegria; o toque do chão e o encantamento índio de uma "força que nunca seca", ficou a alma dos espectadores mais cheia com a presença dessa filha de Seu Zezinho e Dona Canô; dessa "Maricotinha" que deixou um "grito de alerta"; que não pôde bisar com as palavras, mas se despediu com o som da sua voz, da sua música e magia.

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