domingo, 3 de novembro de 2013

No meu canto

      A cantiga de Rita Guerra - incluída no álbum "Rita Guerra ao Vivo no CCB".

     O título admite várias leituras (homónimas): tanto é o resultado do ato de cantar como a posição periférica de quem se deixa ficar ao lado, ao canto, vendo passar...


     NO MEU CANTO

Sei que não te tenho,
Vou-te vendo a passar...
Sei que não aguento,
Mesmo assim vou esperar...

Guardo na memória
Um futuro que não passou
De um sonho bom...

E penso sempre
"Será que me viu?
Eu quero acreditar
Que sentiu

Esta paixão que me eleva
E devolve ao vazio..."

Eu grito,
Eu choro,
Sorrio
Em segredo

Eu quero
O fogo!
Que frio,
Que medo...!

Será que um dia
Sentirei Amor outra vez?
Queria ser a única
Mulher que tu vês

Para te abraçar e embalar
Nesse futuro que não passou
De um sonho bom...

E navego no sonho 
A sorrir
Desejo tanto que possas sentir
A verdade de cada palavra e ouvir

Que eu grito,
Eu choro,
Sorrio
Em segredo...

Eu quero
Esse fogo!
Que frio,
Que medo...

Não consigo libertar-me de ti...
És o livro mais lindo que li...
Vou ficando no meu canto à espera
Que olhes...
À espera que olhes p´ra mim...

      Este é o destino de quem se inspira no amor, compõe a letra e a música e se deixa ficar num sonho, à espera de um olhar. E até lá, canta... o seu canto... no seu canto.

      Uma balada para um outono chuvoso à espera de algum calor, nem que seja o do São Martinho.

5 comentários:

  1. Peço desculpa, mas não consegui passar da primeira estrofe. Como diz o mestre Abel Xavier, não consegui ser um vencedor, ou seja, alguém que vence a dor, talvez porque não a treine (não sou treina-a-dor, não sou) e tudo isto me parece tão budista... Que -dor não é sufixo agentivo, pois não?

    Depois, a voz da piquena tem tantos brilhos (como diriam os grafitistas), na voz!, para quem é tão duro de ouvido como eu... Que a beleza excessiva de trilos e ornamentos me ofusca a corda sensível, vá-se lá saber porquê.

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    1. Estás desculpado!
      Teres resistido até à primeira estrofe ou ter passado do primeiro verso já deve ter sido suplício para ti.
      Eu, como aprecio a PIQUENA, suporto os brilhos dela, a letra, a música... e mais não digo!
      Por isso, fico "no meu canto" a ouvi-la.
      ;)

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    2. Ok,

      mas a ideia não era dividirmo-nos, tipo, ´tás a ver?,como nos bordões horrográficos, e ficar um em cada canto. Um com brilho na capa, outro com mate. Ultrapassando o meu problema auditivo, que reconheço ser o do cristal na voz das divas, gostando mais do grão na fotografia dos Trovante, na 1ª fase, quando eles não tinham profissionais na secção rítmica, do que do perfeccionismo da última fase... O meu defeito é esse: gostar mais do artesanato, do tosco, por vezes, confesso. Agora,

      abro-me à diferença, e o que gostava mesmo era de ouvir-te do meu canto sobre o mestre Abel Xavier.

      Ab.,

      vav

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    3. Vitorino,
      Mantendo-me nos "bordões",... na boa!
      E quanto a Trovante, estamos falados: para mim, são as fases todas, reconhecendo, contudo, que nas décadas de 70-80 a pedrada no charco era fenomenal. Não me canso de ouvir a "Balada das Sete Saias", sempre que me deixo levar por revivalismos.
      E depois desta elevação musical, regresssemos ao chão e aos chutos que Abel Xavier deu na língua portuguesa: é dor (dolorosa) quando nela se vê palavra e só se poderia ver afixo (sufixo). Punha-o num crucifixo (e não tem nada a ver, registo, com o facto de ele ter abraçado o islamismo; só por se ter armado em linguista de trazer por casa).
      Farei apontamento autónomo mais adiante.
      Abç

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  2. Ok,

    mas quanto aos Trovante, por acaso, a minha opinião é completamente convergente com a do Luís Represas. E eu gosto muito, sobretudo, do trabalho do Salgueiro... com o João Paulo Esteves da Silva e com os Gaiteiros. Mas ali o virtuosismo resultou pior. Para o próprio Luis Represas, embora o argumento de autoridade vale o que vale (o seu autor)...

    Abç,

    vav

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