sexta-feira, 5 de junho de 2015

O captain, my captain...

     Palavras de alunos: ficção ou realidade?

    Inicialmente, a expressão começa por fazer parte da metáfora construída por Walt Whitman para, num dos seus poemas ("O Captain! My captain!", 1865), se referir à morte do presidente Abraham Lincoln, no contexto da Guerra Civil americana (essa 'trip', viagem por que os EUA tiveram de passar na sua história):

Poema whitmaniano tão inspirador quanto desconcertante na (des)ilusão.

    Este mesmo poema é citado no filme Clube dos Poetas Mortos (1989), realizado por Peter Weir, particularmente quando o professor de inglês John Keating (interpretado por Robin Williams) diz aos seus alunos que estes o podem tratar por "O Captain! My Captain!", sempre que se sentirem ousadamente inspirados. Se assim o disse no início da relação, assim o recebeu no final: demitido por desafiar os princípios da prestigiada academia onde lecionava, Keating vê os seus alunos revelarem o apoio e a admiração que sentem, ao subirem para os tampos das respetivas carteiras e ao declamarem / dedicarem a expressão whitmaniana a quem os ensinou a aproveitar o dia e a sugar o "tutano da vida" (carpe diem).
    Se qualquer semelhança entre a ficção e a realidade for uma mera coincidência, a verdade é que hoje vivi estas palavras literárias / fílmicas como reais. Ao fim de dois anos e na última aula (oficial) de Literatura Portuguesa, nos minutos derradeiros de um discurso meu interrompido sobre A Sibila (de Agustina Bessa-Luís), vejo uma aluna subir para a carteira dirigindo-me os famosos versos; e logo todos os restantes elementos da turma a repetirem o ato, numa recriação do episódio cinematográfico:

Cena final do filme Clube dos Poetas Mortos, de Peter Weir (1989)

      Entre a incredulidade e a emoção, o sorriso da cena reconhecida e a contenção que se impunha (para não chorar no momento da despedida), estrategicamente comecei por representar o papel, reagir qual Mr. Nolan, o diretor da Academia Welton, com o incisivo "Sit down"; ainda cheguei ao "You hear me, sit down", dada aquela assumida desobediência estudantil; porém, não pude assumir o "This is my final warning! How dare you!". Sensibilizado, só pude responder de uma forma: subir para o tampo da minha secretária e, colocando-me ao nível da turma, agradecer por todos me terem deixado viver momentos e experiências felizes de leitura, de comentário, de análise e de reflexão. 
    Fomos cúmplices no trabalho, no espírito e nas relações que se construíram. Consiga eu levar comigo essa cumplicidade e reconstruí-la numa outra escola.

      Ficção e realidade. Se alguém, no corredor, tivesse olhado pelo vidro da porta e visse o que se passava na sala de aula, pensaria que não era possível estar a ver bem! E foi tanta a realidade!

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