sábado, 17 de fevereiro de 2024

Classificações... a quanto (n)os obrigam!

      Veio a pergunta e logo se ativaram os focos de análise.

      Por mais respostas que se queira dar, há vários pontos de vista analíticos a considerar, alguns dos quais conduziriam à que se revela mais aceitável / adequada / correta.

      Q: Olá, Vítor. Quando puderes, diz-me, por favor, como classificas as orações na frase: "Ouve o CD do Pedro Abrunhosa, que é muito bom." A professora de uma explicanda minha diz que é subordinada adjetiva relativa explicativa. Se não fosse adjetiva relativa, só poderia ser adverbial causal.

       R: Viva. Perante a minha divergência face às respostas citadas, direi o seguinte: 

       i) a hipótese de uma subordinada adjetiva relativa (explicativa), eu colocá-la-ia de parte, uma vez que o suposto pronome relativo "que" me levanta questões de forte ambiguidade quanto à construção sintática da complexidade na frase e quanto ao referente retomado (será "o CD do Pedro Abrunhosa", que não sei qual é apesar da determinação e que necessitaria de uma relativa restritiva para a sua identificação precisa, ou será "[d]o Pedro Abrunhosa", que não vou apreciar na forma e nos termos apontados no enunciado);

      ii) o cenário de a segunda oração ser uma adverbial causal levanta-me sérias reservas quanto ao facto de as subordinadas adverbiais tipicamente admitirem inversão dos termos da construção (*"Que é muito bom, ouve o CD do Pedro Abrunhosa" resultaria numa clara construção agramatical);

    iii) a expressão lógica da causalidade-explicação do enunciado é admissível, conforme se encontra introduzida na segunda oração, configuradora de uma explicação / justificação para o que se enuncia na primeira oração; porém, não tomaria esta última como subordinante nem aquela como subordinada;

    iv) o foco de análise pragmático a colocar no segmento "Ouve o CD do Pedro Abrunhosa" permite entender este último como um ato diretivo (conselho, sugestão) na interação produzida entre um 'eu' e um 'tu', conforme se depreende do modo verbal imperativo usado em 'ouve'; simultaneamente, a apreciação feita com a segunda oração resulta numa orientação justificativa (assente numa apreciação) / explicativa de um 'eu' para o ato de fala assumido na primeira oração.

Problemáticas de identidade (e classificação) do 'QUE'

   Assim, numa perspetiva de análise pragmático-sintática, assumo que a oração inicial é uma coordenada (que não admite troca na ordem sintática com a segunda oração), seguida de uma coordenada explicativa introduzida pelo conector 'que' (a iniciar a oração coordenada explicativa). 

  Desta forma, concluo o seguinte: um "que" sinónimo de "pois" aponta para construções coordenativas; um "que" sinónimo de "porque" nem sempre corresponde a uma subordinação, a qual, sintaticamente, apresenta propriedades típicas não confirmadas com o enunciado em análise.

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