quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Nobel da Literatura: Mario Vargas Llosa

   O nome, familiar, fez-me lembrar um (re)encontro feliz.
   
   Anunciado o peruano Mario Vargas Llosa como o premiado com o Nobel da Literatura deste ano, voltei a pegar livro que li do autor, há já uns bons pares de anos: Pantaleão e as visitadoras (1973).
    Mais recentemente, no ano lectivo 2008/2009, o reencontro fez-se graças a um contrato de leitura apresentado por um aluno numa das minhas aulas de 10º ano.
    A obra, que figura na listagem do Ministério da Educação para alunos do ensino secundário,  foi considerada numa espécie de jogo de sorte e de azar; numa aproximação e descoberta ao autor e à sua obra. Ainda que houvesse a oportunidade de redefinir o contrato, o aluno achou por bem prosseguir. Deve ter encontrado qualquer coisa que o manteve fiel à sorte recebida.

    A história centra-se na personagem Pantaleão Pantoja (capitão recém-promovido do exército), responsável pela criação sigilosa de um serviço de prostitutas para as Forças Armadas do Peru localizadas na selva amazónica. Mudando-se para Iquitos, Pantaleão mantém-se afastado dos restantes militares, usa trajes civis e nada contar à mãe nem à mulher. A discreta missão transforma-se na maior empresa de prostituição do país, alterando completamente a vida local e a do próprio capitão (quando este é visitado pela bela e insinuante Colombiana). Rendido à paixão e ao desejo que sente, Pantaleão vê na sua 'visitadora' a própria força do desejo, da vida amazona selvagem.
     No contraste entre a selva e a cidade (mais propriamente a hipocrisia de uma sociedade convencional e puritana, representada na personagem da mulher oficial de Pantaleão), Colombiana torna-se metáfora do desejo e da volúpia livres de qualquer forma de puritanismo; a selva sem pudores contra a cidade pudica, casta e hipócrita. Assim se atinge o registo da farsa para uma época, para os seus costumes.

    Entre o social e o natural: o velho conflito romântico europeu revê-se, em língua hispânica, num contexto sul-americano, no percurso de um militar que se vê derrotado "na (humana) guerra do amor".

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