sexta-feira, 9 de agosto de 2013

A morte natural na livre doçura criativa

    Que melhores palavras para homenagear um dos escritores mais produtivos da contemporaneidade com tanta intemporalidade?

     A imagem do sorriso e do ar afável de Urbano Tavares Rodrigues suaviza a notícia triste da sua morte. O autor de A Hora da Incerteza (1995) deixa-nos no momento em que se anuncia a chegada de Nenhuma Vida, romance para lançar pela celebração dos seus noventa anos (ainda este ano, segundo a Publicações Dom Quixote).
    Nele, em jeito de prefácio, há já um tom de despedida iluminada, no modo panteísta e socialmente comprometido com que viveu.:

  "Daqui me vou despedindo, pouco a pouco, lutando com a minha angústia e vencendo-a, dizendo um maravilhado adeus à água fresca do mar e dos rios onde nadei, ao perfume das flores e das crianças, e à beleza das mulheres. Um cravo vermelho e a bandeira do meu Partido hão-de acompanhar-me e tudo será luz".

     Num percurso literário feito de influências existencialistas (com notas de náusea e servidão), marcado por luta política e pela consciência na intervenção social (seja na oposição à ditadura de salazar seja na afirmação de convicções pela defesa de valores humanistas, dignificadores do Homem em Sociedade), assumido pelos tons de intimismo e doçura perante o amor e a morte, viveu o Homem que cedo descobriu o desejo de justiça social.

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