terça-feira, 7 de abril de 2020

A praia, o mar, o céu, o sol... e um farol

      Um dia de sol espreita entre os que foram de chuva.

      Não há vírus que me prenda em casa. Confinado, sim, mas com rasgos de recusa e de liberdade. 
    A caminhada fez-se e foi marulhada. Os tempos são críticos; graves, agudos, alguns dirão, para uma sobrevivência que muitas centenas humanas já não conseguirão.
     A Aguda oferece aos fugazes visitantes um quadro marinho em movimento, com alguns batéis estacionados na praia; outros vogando nas ondas que invadem a orla, o areal, numa baía sem sossego. Um ou outro pescador mantém-se ao largo, assistindo impotente ao espetáculo hercúleo que a natureza lhe dá a ver.
       Um farol permanece no limite de um paredão (nome tão aumentado para força tão mais superior) continuamente banhado. De vez em quando, parece que sobre este circula um comboio a vapor, correndo, a fumo branco.

Pedaço de dia temperado de sol e de sal (Vídeo VO)

       Não há locomotiva, rodas ou carris. Apenas água a espelhar o céu e um ribombar forte que deixa sentir a pequenez de tudo diante da força do mar. Até aquela torre de luz apagada se sente minúscula, ameaçada e desorientada, sempre que a vaga surge, embate na barreira e termina num foguetear de névoa alva, salinadamente difusa, erguida ao céu, até ao salpicar e remolhar das pedras. 

       Tempo de maresia e de uma energia inspiradoras, incompatíveis, na força e na beleza, com a lembrança de um desgraçado vírus. Regresso a casa e revejo um momento que tempera a vida.

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