sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Pelo nascimento de um cativo do amor, da vida e dos sentidos

       A oitenta e quatro anos de um nascimento.

       O nascimento em Lisboa (1927) deu vida a um peregrino do mundo sempre fiel à cidade onde também morreu (1996).
      Outra das fidelidades foi a da escrita, a das letras que usou, trabalhou em várias vertentes (jornalismo, tradução, teatro, romance, poesia). 
      De resto, tudo deixou ou convidou a deixar - "Deixa ficar a flor, a morte na gaveta, o tempo no degrau" -, num experimentado culto à vida, aos sentidos, ao amor (os seus temas validos e aos quais se manteve sedutoramente cativo).


Soneto do Cativo


Se é sem dúvida Amor esta explosão
de tantas sensações contraditórias;
a sórdida mistura das memórias,
tão longe da verdade e da invenção;


o espelho deformante; a profusão
de frases insensatas, incensórias;
a cúmplice partilha nas histórias
do que os outros dirão ou não dirão;


se é sem dúvida Amor a cobardia
de buscar nos lençóis a mais sombria
razão de encantamento e de desprezo;


não há dúvida, Amor, que te não fujo
e que, por ti, tão cego, surdo e sujo,
tenho vivido eternamente preso!
                                                                                    David Mourão-Ferreira, in Obra Poética

     Num poema de amor, num convite à vida e para a vida, nada melhor do que lembrar o nascimento do seu criador.

    Um exemplo intelectual, de homem cuja vontade merece ser lida: "Que fique só da minha vida / um monumento de palavras / mas não de prata nem de cinza / Antes de lava, antes de nada".

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