sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Do homem no Porto nascido

      212 anos passaram desde o nascimento do autor de Frei Luís de Sousa.

      Ainda há pouco tempo me cruzei com a casa na qual se encontra assinalado o seu nascimento - na cidade invicta, aquela onde lutou pela causa liberal.
Casa na Rua Dr. Barbosa de Castro (Porto)
     Esta é a casa-natal para o introdutor do Romantismo em Portugal, aquele que no saber e no sabor dos discursos do seu tempo já dizia:

«Se na nossa cidade
há muito quem troque o b por v,
há pouco quem troque 
a liberdade pela servidão.»

      Na defesa pela liberdade (dos valores maiores entre os românticos), na apologia do sentimento, há o cíclico retorno que devolve o Homem a uma espécie de saudosismo voltado para a infância ou para um tempo em que o bom não está corrompido. E, assim, o "eu" se confronta com o que foi e o que é.


Quando Eu Sonhava

Quando eu sonhava, era assim
Que nos meus sonhos a via;
E era assim que me fugia,
Apenas eu despertava,
Essa imagem fugidia
Que nunca pude alcançar.
Agora, que estou desperto,
Agora a vejo fixar...
Para quê? - Quando era vaga,
Uma ideia, um pensamento,
Um raio de estrela incerto
No imenso firmamento,
Uma quimera, um vão sonho,
Eu sonhava - mas vivia:
Prazer não sabia o que era,
Mas dor, não na conhecia ...

in Folhas Caídas (1853)

      Um pequeno poema sem fim, pela circularidade para que remete, qual mito de/para um eterno retorno.

1 comentário:

  1. A INCM tem vindo a editar a edição crítica das obras de Garrett, as 'Viagens...' já aí estão. Li-as a primeira vez quando teria uns 14 anos, oferecidas pela minha Mãe em Fátima; não devo ter percebido muita coisa, mas a história da menina das janelas verdes deve-me ter levado até ao fim. Reli-as muitas vezes, desde então. O final acompanha-me sempre que ando por Portugal.
    Dona Madalena, por outro lado, é uma mulher única na literatura portuguesa, nem a Dona Inês - esta, ao menos, viveu...
    Há anos, uma colega pediu-me para acompanhar os seus alunos de 11º ano durante a projecção de um filme sobre o 'Frei Luís de Sousa', ela não podia. Fui ver o filme com os alunos, as alunas... Não recordo o realizador, recordo uma Dona Madalena tão trágica que fez rir as adolescentes... Terminado o filme lembrei aos alunos, às alunas, que o que tinham acabado de ver lhes podia tocar um dia... Fez-se um silêncio... É que «não se enrede a rede nela / que perdido é remo e vela...» Este poema é uma preciosidade, um compêndio de poeticidade. Escrito em Inglês teria tido outro destino. As 'Viagens...', escritas em Francês, Alemão ou Inglês, nem falemos. Felizmente, não foram...

    ResponderEliminar