terça-feira, 14 de agosto de 2012

Perguntas... para quê?

    Cá está uma pergunta (na forma) que sugere mais do que as palavras e a entoação dizem. Vale mais pela asserção que dela deriva.

    Muitos são os casos na língua que estão bem além do que a forma interrogativa possa imediatamente significar. Daí a velhinha pergunta "para que servem as interrogações?" ter muito que se lhe diga. A resposta "para fazer perguntas" é tão redutora quanto aquelas serem utilizadas para fazer pedidos, avisar, dar conselhos, atenuar as ordens, marcar posições. Entre o diretamente formulado e o indiretamente proposto são muitos os cenários, alguns dos quais dão lugar a atos e não tanto a discursos.
    Uma foto avança com muitas interrogações:


    À entrada de uma igreja, as questões não servem para confirmar nada. A forma de questões totais (com resposta admissível do tipo Sim / Não) associa-se a um conjunto de avisos / conselhos para quem pretenda assistir a um serviço religioso.
    Neste sentido, o ato de fala diretivo (da interrogação) corresponde a um outro ato de fala diretivo, mas indireto, cuja força ilocutória sai atenuada, comparativamente aos enunciados correspondentes como:
      i) Não entre, se deixou o seu carro mal estacionado / Estacione bem o seu carro antes de entrar;
      ii) Desligue o telemóvel antes de entrar na igreja / Não esteja com o telemóvel ligado dentro da igreja;
   iii) Não entre, se não estiver convenientemente vestido / Entre apenas no caso de estar vestido convenientemente.

     É por perguntas destas e doutras que, quando entro num quiosque e pergunto se tem o Público, não estou à espera que me respondam (com ou sem sorriso) "Tenho". A minha pergunta é desejo de compra, que deve dar lugar à apresentação do jornal para venda. Prova de que, na língua, muito facilmente se passa das palavras (ditas ou escritas) aos atos (de fala).

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