Trabalho cíclico... passado mais de um ano.
R: Tive de retomar o apontamento, reler o que escrevi - no fundo, situar-me.
Mais um contributo para mostrar como as aparências (gráficas) não devem iludir.
Q: Li sua resposta [acerca da formação do verbo 'encorajar', a partir de 'coragem'] e ficou uma dúvida: como explica a ausência do «m» na evolução coragem > encorajar? Será caso de queda a considerar na formação da palavra? Muito agradecida.
R: Tive de retomar o apontamento, reler o que escrevi - no fundo, situar-me.
Começo por sublinhar que a dúvida apresentada assenta na aceitação da formação do verbo 'encorajar' numa das hipóteses entre duas colocadas.
Nessa linha, responder a esta dúvida, formulada em apontamento anterior, implica desde já considerar que se deve processar o distanciamento relativamente à componente gráfica, bem como a questões de evolução da língua ao nível fonético.
Assim, a realização [ku'raӠᾶj] é graficamente representada com um 'm' enquanto indicador do traço de nasalidade da última sílaba. Ora, é esse traço de nasalidade que se perde (não o som [m]) na derivação do nome para a forma verbal 'encorajar'. A sílaba nasal da base derivante dá lugar a uma sílaba não nasal na palavra derivada, além de se processar uma elevação na natureza articulatória do som vocálico e a mudança de acento tónico.
Registo, ainda, a recorrência deste mecanismo, como se pode comprovar nas derivações 'ferrugem > enferrujar', 'vantagem > avantajar' (por parassíntese) ou 'linguagem > linguajar', 'massagem > massajar', 'portagem > portajar', 'viagem > viajar' (por sufixação).
Não há, portanto, o que, em termos de evolução linguística e numa perspetiva diacrónica, se apelida de fenómeno de queda.
Mais um contributo para mostrar como as aparências (gráficas) não devem iludir.
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