segunda-feira, 3 de junho de 2013

À beira de um ataque (e espero que não seja de nervos)

     Nada tem a ver com a luta, a não ser a do estudo que se impõe.

     A propósito de sílabas, ou dessas unidades que organizam os sons no seio das palavras.

     Q: Na descrição da estrutura silábica do português existe a classificação dos tipos de ataque. Ao analisar algumas palavras para provar que estas tinham um ataque simples, deparei-me com a palavra 'perdiz' e a minha análise não coincide com a de ataque simples por causa da fricativa em final de sílaba, que eu considero como sendo uma coda. Isso implica que eu não possa considerar que existe um ataque simples nesta palavra? 

     R: Primeiro de tudo, creio haver alguma confusão na questão, juntando conceitos que se excluem: o de ataque e o de coda. O primeiro associa-se à consoante que antecede o núcleo silábico (vogal ou ditongo); o segundo, a consoante que sucede a esse núcleo.
      Depois, convém não esquecer que estamos a falar de sílabas, não de palavras.
     No caso de 'perdiz', existem duas sílabas: 'per' e 'diz'. Tanto o ataque da primeira como o da segunda são simples, constituídos pelas oclusivas [p] e [d], respetivamente. Um ataque só não é simples, por exemplo, na sílaba 'pri' de 'primeira': aí apresenta-se um ataque complexo, pela junção da oclusiva com a vibrante.
     Quanto à fricativa final de 'perdiz' é a coda, sim, por se encontrar à direita, após o núcleo vocálico (da segunda sílaba). Não esquecer que o núcleo e a coda constituem ambas a estrutura rimática da palavra. 'Perdiz', por fim, tem duas codas: 'r' ([r]) e 'z' ([ʃ]), nas respetivas sílabas.

     Entre codas (finais) e ataques (iniciais), nada como ficar pelo meio, que se diz ser mais virtuoso. Pelo menos, no caso das sílabas é nuclear e vocálico.

4 comentários:

  1. O recurso da Linguística ao léxico musical, neste caso, desarranja-me um pouco (mas serão os meus olhos e ouvidos, já cansados, no caso da coda).

    O ataque está na Música associado a uma intensidade produzida nas cordas (neste caso, vocais, mas de um qualquer instrumento), enquanto a cauda, digo, a coda engloba o final de um tema de jazz ou de música erudita. É todo um corpus melódico, harmónico, dinâmico, etc., que me faz muita espécie ver na pronúncia de uma consoante, final que ela seja.

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  2. Creio que a noção de 'Coda' foi recuperada da definição mais vulgarmente assumida (e traduzida do idioma italiano para o português como sínónima de cauda) pela secção / componente com que se termina uma música ou que serve de remate a uma composição musical.
    Bem pior seria aos teus olhos e ouvidos, digo eu, que uma composição erudita, ou mesmo uma mais contemporânea, não tivesse ataque ou coda. Pois no que às sílabas diz respeito, isso pode muito bem acontecer e, pelos vistos, nem os linguistas nem os falantes veem nisso problema, assumindo o núcleo como único elemento obrigatório.
    Enfim... caso para dizer que são outras músicas!

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  3. Ok, mas continuo a achar que se restringe muito o sentido de coda. Apenas isso.

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    1. Aposto que a aluna de Fonética e Fonologia que me solicitou este esclarecimento agradece a restrição (para se poder espraiar por outras informações, como as morfofonológicas, por exemplo).

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