sábado, 29 de fevereiro de 2020

Ao que chega diminuir - tudo reduzido a diminutivo!

    Isto de ver o programa "Cuidado com a Língua" (na RTP2, numa reposição do que já foi tratado na RTP1 em 2017) antes do jantar é hora crítica (para não dizer do assunto tratado).

    Quando se procura exemplificar a formação do diminutivo com uma sistematização que muito tem que se lhe diga (e ainda por cima acompanhada de uma voz-off a clarificar - será? - o sistematizado), tudo se perde.

Imagem do episódio hoje repetido na RTP2 (o 12º da temporada 9, de 2017)

   Primeiro de tudo, ver esta sistematização como a explicação da formação do "diminutivo" (conforme o proposto no programa) é, no mínimo, inusitado, para não dizer incorreto. Assumido como resultado do processo de derivação (por sufixação) ou do de redução / contração, é demasiado estranho ver o grau diminutivo explicado neste segundo processo como se de uma abreviação se tratasse. 
      Depois, ouve-se no programa que o diminutivo serve para traduzir pequenez, apoucamento, diminuição de tamanho ou valor, além de sugerir valorização afetiva. Aceita-se isto, em termos genéricos; contudo, ver as reduções ou contrações nominais da direita como exemplificativas dessas leituras não é, por certo, nem linear nem aceitável: 'Nando' tem como diminutivo 'Nandinho' e 'Zé', 'Zezinho' (e, por que razão não, 'Gabizinha' para Gabi?).
     Confundir abreviação com 'diminutivo' é risível, tanto quanto ver na diminuição da forma do nome (por truncação ou por amálgama) um sinónimo do grau, quanto ao sentido.
       Por fim, exemplificar a sufixação com '-inho' através da palavra 'mãezinha' é desconhecer, por um lado, que 'inho(a)' e 'zinho(a)' são sufixos distintos (o primeiro empregue em bases radicais; o segundo, em bases palavras); por outro, que 'ito(a)' e 'zito(a)' têm mais um sentido avaliativo do que propriamente diminutivo.
    Assim sendo, um programa com o título que tem requer mais "cuidadinho" (um diminutivo irónico) com a língua - tal e qual como o "Bom Português" que, por vezes, também deixa muito a desejar

      Uma base de consulta linguística mais credível não ficaria mal para um programa como este. É um serviço de interesse público (para o qual todos os telespectadores pagam)!

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