A bem de quem queira saber, cá vai a resolução de um (muito) pequeno trabalhinho.
Em véspera de teste, as dúvidas são imensas. Surgem exemplos tão complicados, a pedido dos alunos, que um professor tem que responder à letra. Depois de uma proposta de frase com três níveis de análise (a propósito de funções internas), eu tinha que me impor: trabalho prático com frases "torcidas", "torcidinhas", "torcidíssimas".
Foi vê-los a mostrar o que podiam e, às vezes, o que não podiam. O certo é que não largaram. O problema foi a campainha, que concluiu o tempo de aula. Contudo, houve uns resistentes que aproveitaram a falta de uma professora no bloco seguinte, para desfazer o nó.
Lá vieram os resultados, depois de muito suor, para duas frases a analisar sintaticamente.
Primeira frase: 'Os alunos, ao estudarem Cesário Verde, não deixam de trabalhar matéria fundamental na Língua Portuguesa'
i) Sujeito: 'Os alunos' (>Eles)
ii) Predicado: 'ao estudarem Cesário Verde, não deixam de trabalhar matéria fundamental na Língua Portuguesa'
iii) Modificador do predicado: 'ao estudarem Cesário Verde'
iv) Complemento direto: matéria fundamental na Língua Portuguesa (na continuidade de um complexo verbal - 'não deixam de trabalhar X' - que podia apresentar a seguinte pronominalização do CD: 'não deixam de a trabalhar'
Houve ainda quem quisesse saber como classificar a construção do modificador: uns avançaram que se tratava de uma subordinada não finita infinitiva (certo); outros acrescentaram que era adverbial (também); por fim, pedi que dissessem o tipo de adverbial. E aí lá pensaram mais um pouco; pedi para transformarem por uma expressão equivalente e lá vieram os 'enquanto estudam Cesário' e 'quando estudam Cesário'; lá chegou, por fim, a subordinada adverbial temporal. Ufa!
Segunda frase: 'Por mais que se trabalhe, há de ficar sempre a sensação de que a língua portuguesa é muito difícil'
i) Sujeito: A sensação de que a língua portuguesa é muito difícil (invertido, ora pois... e é bom de ver que a ordem normal seria 'Por mais que se trabalhe, a sensação de que a língua portuguesa é muito difícil há de ficar sempre' e que a pronominalização daria 'Por mais que se trabalhe, ela há de sempre ficar').
ii) Predicado: há de ficar sempre
iii) Modificador da frase (por não admitir o teste da interrogativa nem o da negativa: *É por mais que se trabalhe que há de ficar sempre...? / *Não por mais que se trabalhe, há de ficar sempre...): Por mais que se trabalhe,
Então, alguém pergunta: não há um predicativo do sujeito nesta frase?
Há, sim senhor, mas como função INTERNA, numa classificação de segundo nível. O sujeito da frase é representativo de um caso que incorpora uma sequência frásica na expansão do nome 'sensação'. Ora nessa expansão há, a um segundo nível de análise, um sujeito e um predicado subordinados (sujeito: a língua portuguesa; predicado: é muito difícil). É neste predicado subordinado que se encontra o predicativo do sujeito (também subordinado), depois do verbo copulativo 'ser'.
Como há alunos que querem saber tudo (e ainda bem!), quiseram classificar a construção do modificador. Viu-se que era uma subordinada adverbial finita que, em termos lógicos, se identificava com uma concessiva (depois de terem substituído o 'por mais que se trabalhe' por 'ainda que se trabalhe', 'mesmo que se trabalhe', 'embora se trabalhe'...
Segundo Ufa!
E foi assim que, depois disto, tive vontade de tirar férias. Trabalhar cansa! Só os alunos para me obrigarem a trabalhar tanto.
Louvado seja o Senhor!
ResponderEliminarEu já estava cansadinha de ver o cartaz das conferências.
Seja bem-vindo, meu caro Vítor!
Bjinhos
IA
Obrigado, Isaurinha.
ResponderEliminarA carruagem teve de ser reparada, mas a crise...
Depois, com a suspensão do TGV, a carruagem também ficou suspensa. Além disso, o maquinista tem andado muito desmotivado.
Está no poço! No POCEIRÃO!
O que vale é que ainda há alunos que motivam os professores, para além de umas amigas que gostam muito de viajar "nestes caminhos de ferro"!
Bjs.
VO
Olá, Vítor.
ResponderEliminarFiquei muito contente por poder entrar de novo na carruagem 23 e aprender mais ao longo da viagem. De facto, dava pena vê-la paradinha a anunciar as Conferências do Concelho (de Gondomar). Felizmente, as Conferências estão a andar bem e a Carruagem já está em movimento para também bem continuar a andar. Aliás, tu também ajudaste a pôr em marcha as Conferências. Mais uma razão para a Carruagem avançar. E, pelos vistos, tiveste a melhor motivação: os alunos.
Um abraço
Dolores
Dolores,
ResponderEliminarObrigado por tudo e, em especial, pela amizade.
Os alunos foram, de facto, a minha motivação a par de mais um e outro estímulo para pôr o maquinista na locomotiva a puxar a CARRUAGEM. Ainda que desrespeitando o prazo dos três dias,vou tentar vir cá mais vezes, assim me deixem o tempo, a vontade e o prazer (que tem andado algo afastado da minha pessoa).
A ver vamos que linha vamos conduzir.
Quanto às conferências, faltei à última por motivo de força maior. Por certo, deve ter corrido bem. Quanto à próxima, lá volto eu à ação. Espero corresponder às expectativas e à aposta que as amiguinhas da 'Oficina da Língua' fizeram.
Estou convosco (e agradecido por me terem integrado no projeto).
Beijinho.
VO