domingo, 13 de novembro de 2011

O dia deu em chuva

     Fica o registo de que o dia deu em chuva.

     E, mesmo assim, foi dia para se viver (bem).

            DOMINGO DE CHUVA

     O domingo deu em chuva.
     Depois da noite e do vento quentes,
     veio um dia fechado, dizem
     - sem sol, de céu carregado, com chuva,
     mas aberto ao lavar da alma.
     
     Não era possível falarmos.
     Restava-nos ouvir o embate 
     duro e diluviano da chuva.
     Seguimos... por retas e curvas.
     Cumprimos o trajeto de um bom domingo,
     aguado, relampejado, trovejado...
     entre montes veiados de caminhos,

     E assim, nas horas partilhadas,

     provámos que o tempo não faz o dia.

     Na água luzente com trovão molhado,
     cumpriu-se a rota, rumo à alegria.

     Foi domingo.
     Seria fechado?
     Esteve de chuva...


     Este foi o balanço de um dia que quase tudo teve no que nunca se desejou.

    Para os tristes dias soalheiros, há sempre aqueles outros que, entre as lágrimas da alma e as do céu, recebem algum do sal da vida para o destempero dos tempos. Talvez por isso o heterónimo pessoano Alberto Caeiro veja a beleza que um dia de chuva tem, tal como um dia de sol.

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