domingo, 23 de outubro de 2016

De novo o "Inferno"

       Já sobre ele escrevi várias vezes - antes, do livro; hoje, do filme.

     A leitura de "Inferno" de Dan Brown foi hoje complementada pelo visionamento da adaptação fílmica do livro à tela. Protagonizado por Tom Hanks, o enredo fílmico traduz algum do caos ameaçador que contribui para uma visão dantesca do mundo:

Trailer do filme para a obra homónima de Dan Brown

       Não é negada - se é que alguma vez o será - a constatação clássica de que o ritmo da sétima arte - com percursos bem mais curtos, para não mencionar os eliminados - em nada condiz com o do tempo de leitura. Assim se marca a produção de Ron Howard, em mais um episódio - digamos assim - da série de aventuras do simbologista Robert Langdon. Depois de O Código Da Vinci (2006) e Anjos e Demónios (2009), chega a versão cinematográfica de Inferno (2016), numa rede de relações muito próxima à referência cultural que Dante representou nessa descida literária aos infernos de A Divina Comédia - obra trecentista constituída por três partes ('Inferno', 'Purgatório' e 'Paraíso').
       Langdon acorda num hospital italiano em estado amnésico. A recuperação da memória faz-se à medida que a parceria com Sienna Brooks (Felicity Jones) dá lugar à constatação de que é preciso correr contra o relógio, de modo a desvendar os segredos que podem transformar-se numa crise global fatal. O mau da fita (sê-lo-á?!), Bertrand Zobrist, sustenta que a superpopulação conduzirá ao fim da humanidade, pelo que a sobrevivência passa por diminuir o número de habitantes planetários. Se, no livro, um vírus provoca uma mutação genética - causando esterilidade a um terço da população mundial, numa estratégia de controlo da natalidade -, na tela o perigo da exterminação da humanidade mantém-se, ao evitar-se que o vírus esterelizador se propague.
      As diferenças da escrita face às do registo cinésico da arte do cinema não se esgotam neste aspeto temático final: a descrição física das três figuras femininas da história não é coincidente; há personagens nas páginas do livro que não têm lugar na tela (caso de Christoph Brüder, um agente ao serviço da Organização Mundial da Saúde com a missão de capturar Robert Langdon e que, no fim, colabora na resolução da trama), bem como o contrário (o agente Christoph Bouchard persegue Langdon e Sienna, aliando-se a estes para obter o vírus que pretende vender no mercado negro); no liveo, o conhecimento recente de Robert Langdon relativamente à Dr.ª Elisabeth Sinksey - chefe da Organização Mundial de Saúde -, no filme, redunda num passado amoroso resolvido em favor dos percursos profissionais e em detrimento da relação sentimental.

     E nas distinções que compõem as duas expressões artísticas (o que, aliás, já se havia verificado com Anjos e Demónios), um dado ressalta: as viagens por Florença (Giardino di Boboli, Corridoro Vasari, Ponte Vecchio, Galeria Uffizi, Catedral Santa Maria del Fiore), Veneza (o Grande Canal, a Praça de S. Marcos, o Palácio do Doge) e Istambul (Hagia Sophia e a Cisterna da Basílica de Istambul) são itinerários que preenchem a visão e a imaginação tanto de quem lê como de quem vê.

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