É um dado comum o mau trato que alguns meios de comunicação social têm vindo a dar à nossa língua.
Rodapé da SIC
São muitos os episódios que, em termos de televisão (e pelos quatros canais televisivos generalistas), mostram o mau exemplo de serviço público prestado com a utilização imprópria do Português: do "*acessor" (seria por dar 'acesso' a qualquer coisa ou a alguém?) que devia ser ASSESSOR; das greves que frequentemente não acertam com as "*paralizações" de serviço, quando deviam acarretar PARALISAÇÃO (decorrente do verbo PARALISAR); dos acidentes que obrigam a "*evacuar" pessoas (o que é terrível, pelo cheiro que deve provocar), quando interessaria que tal se fizesse aos espaços; dos 'h' que indevidamente desaparecem na expressão de duração temporal ('HÁ x tempo') ao 'ás' que, não sendo uma carta de jogar, sempre foi palavra aguda com acento gráfico grave (a marcar a contracção da preposição com o determinante artigo definido feminino: À(S)).
Ainda que antiga (como se depreende pelo tema noticiado), a informação da imagem efectivamente diz respeito a CONCELHOS. Posso dar o conselho de que estudem melhor as palavras homófonas (que se distinguem graficamente), para que não confundam conselhos (avisos, sugestões) com concelhos (da administração geográfica).
Nesta semana, estes mesmos canais brindaram-nos com mais do que muitos outros casos, com a mesma gravidade.
Um primeiro, a título da tomada de posse do novo governo constitucional, surge quando há uma voz-off em pleno telejornal da RTP, dando conta de que o Sr. Ministro da Segurança Social "*interviu" bastante no parlamento. Resta a felicidade, para o alto representante da nação, de que ele INTERVEIO e, parece, com grande frequência. Também era bom que fosse recorrente o reconhecimento de que este verbo se conjuga tal como o verbo 'vir' (por isso é que eu intervenho, para não dizer que já intervim, com comentários críticos sobre incorrecções que interessa afastar de vez dos olhos e dos ouvidos do comum dos falantes).
Um segundo, ainda no contexto das acções governativas, ocorre quando se noticia, em rodapé, a necessidade de o Ministério das Finanças ter de actuar "*rápidamente" junto dos credores, para o país sair de uma situação crítica e de aperto financeiro. Aflitivo também é ver um acento onde não deve estar, até porque a sílaba tónica da palavra é a penúltima ([men] - palavra grave). Seria desejável que se revisse, RAPIDAMENTE, as regras gerais de acentuação - nomeadamente a que diz que as palavras graves não são, por norma, graficamente acentuadas. Até porque, a propósito do casamento do príncipe Alberto do Mónaco, ainda ontem se leu na transmissão, em directo, da TVI, que Sua Alteza Sereníssima casou "*católicamente" com Charlene. Como é possível manchar uma cerimónia tão glamorosa?! É difícil saber que os advérbios terminados em '-mente' não têm acento gráfico? Até parece pecado que não se dê CATOLICAMENTE uma resposta penitencial a quem o cometeu (para ver se fica mais... católico no Português).
Enfim: não sei que diga mais, quando, inclusivamente, há canais que, a pretexto de familiarizar os espectadores com o Acordo Ortográfico, acabam por (supostamente) ensinar o novo e não cuidar da língua no que tem de mais estável. Ironias!
Podes juntar mais um: na RTP lia-se, no rodapé do telejornal, a atribuição de um prémio no "RÉMO". Fantástico!
ResponderEliminarNão há professores de Português desempregados?
Abç
É verdade! Também reparei nesse. Deve haver muito boa gente a pensar que são consequências da aplicação do 'Acordo Ortográfico' (AO). E é esse o canal que mais insiste em dar conta das novidades do AO.
ResponderEliminarAcho que há professores de Português e deve haver também linguistas que bem mereciam receber um bom ordenado na televisão, se fossem responsabilizados pela imagem linguística de uma empresa que devia ter mais "cuidado com a língua".
Obrigado pelo comentário.
Bom resto de domingo e boa semana de trabalho.