quinta-feira, 21 de julho de 2011

Vi um Homem-Livro

      Só por ironia a maiúscula se impõe, perante tanta simplicidade e tanto valor.

     Numa entrevista de Judite de Sousa, no Jornal da TVI, alguém assumiu que a arte existe para que os homens não desperdicem a vida; que a felicidade é constituída por "momentos epifânicos de puro egoísmo" para distribuir e compensar por aqueles que nos causam tristeza; que a morte é uma possibilidade e a inevitabilidade do que é perecível (nomeadamente o Homem), mas que não impede o sentido da completude.
   É este o "tsunami literário", conforme Saramago o qualificou, quando aquele em 2006 recebeu o prémio a que este deu nome.
   Chamo-o de um Homem-Livro, pelo que me despertou quando o ouvi na ESG a falar para jovens, enquanto jovem poeta - o caminho pelo qual encetou o seu percurso de escritor, numa espécie de "refúgio seguro". Qual bombeiro das palavras, apelava ao fogo da criação e ao sentimento, ao olhar diferente, mas natural, que põem cor na vida e na razão.
    Chamo-o também assim pelo que foi o cumprimento de mão e as parcas palavras trocadas assim que mo apresentaram, aquando do II Encontro de Linguística de Gondomar. De novo, ouvi-o depois falar da sua criação, do leitor que foi e de como isso o tem marcado de cada vez que escreve; e de como se devia alimentar a poesia de um jovem estudante da ESG, que escrevera algo num poema que o tocou pelas palavras e ideias singulares.
    Chamo-o ainda por o ter ouvido numa entrevista televisiva, ficando preso ao que ouvia, tal como quando leio um romance e, por mais que me chamem para ir jantar / almoçar, acabo sempre por trair a mesa.
   
    
   Chamo-o, por fim, pelo que deve ser um Homem que se impõe numa cumplicidade afectiva com qualquer ser humano, na simplicidade e no sentido genuíno, mas polido, em tudo o que diz.
   Diz-se (e vê-se) que, em Paraty, Valter Hugo Mãe chorou, fez chorar e que o aplaudiram com lágrimas nos olhos. Houve também quem se lhe declarasse e lhe propusesse casamento. E com um sorriso nos lábios e um rubor envergonhado, falou dos apelos do(s) amor(es) da forma mais natural e tangível que os olhos, os ouvidos e o tacto podem ter.

    Há homens que nascem, merecidamente, bafejados pelo que há de mais superior no sentir e de mais elevado no viver (mesmo que escrevam apenas com minúsculas).

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