quinta-feira, 1 de novembro de 2012

Eis-me aqui (de novo)!

    Na rede do Facebook, fizeram-me administrador de uma página dedicada a professores de Português - espaço bem pensado por uma amiga e colega de curso (já lá vão mais de vinte anos).

      Encarado como espaço de reflexão, discussão e partilha, comecei já a contribuir, na linha do que já vou fazendo com esta "carruagem". Desafiado a propósito de um "eis", que já havia abordado há algum tempo, surgiu uma questão complementar, depois de ter assumido a minha visão desse termo como advérbio de frase.

Q: É verdade que "eis" tem o mesmo comportamento sintático dos advérbios de frase (não pode ser interrogado nem negado) e que à partida, exprime uma perspetiva do enunciador..., mas, ... aproveitando o exemplo "Eis a questão que surge!" > É a questão que surge", não poderá ele significar que "é esta questão que surge e não outra", sendo, assim, de exclusão?

R: O exemplo dado situa-se no plano de uma construção sintática aproximada (um dos critérios adotados para analisar os advérbios), nomeadamente a que aponta para uma construção quase de natureza correlativa ("É + GN + que..." / "Eis + GN + que..."). A questão interpretativa acrescentada ("... e não outra") é de outra natureza (semântico-pragmática) e com aplicação a vários contextos - no limite, com o advérbio de negação também existe essa interpretação ('A questão NÃO é essa' > É outra) e não é por isso que é considerado de exclusão. 
     A orientação para a classificação de "eis" como advérbio de frase assenta numa dimensão enunciativa, discursiva, que não tem de implicar necessariamente uma questão de restrição e /ou exclusão ao nível da referência. No plano enunciativo-discursivo (do ato de dizer e do querer dizer), e não no plano do que é 'dito', "eis" enquadra-se num ponto de incidência exterior ao dito (exterior à frase), não participando da referência frásica, mas da intervenção do enunciador que assume a natureza súbita, relevada daquilo que diz. Neste plano, não deixa de ser uma marca de modalidade discursiva; e, nesta lógica de raciocínio, insiro-o nos advérbios que modificam a frase, com esse traço da agência e do posicionamento enunciativo, da modalidade, da intencionalidade enunciativa. Contribuem ainda para esta leitura, aspetos de âmbito sintático (preferência pela posição pré-verbal ou inicial), fonético e entonacional (intensidade, ritmo).

      E depois disto, quase apetece dizer, qualquer reclamação é favor contactar a administração!

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