segunda-feira, 1 de julho de 2013

Comunicação e afetos (lembrando Stern e Espinoza), sem consciência

     Entre os finais do século XIX e as primeiras décadas do século XX, o psicólogo germânico Wilhelm Stern, para além de introduzir o conceito de 'QI', referia-se àquilo que considerava ser a primeira forma de comunicação.

O alemão Wilhelm Stern foi pioneiro nos estudos
da psicologia da personalidade e da inteligência
    Salientando o contributo relevante dos jogos de imitação no desenvolvimento da linguagem, no que se possa designar como domínio da espontaneidade da criança, o estudioso orienta-se para o conceito de “convergência” enquanto processo de conquista da linguagem pela criança numa interação contínua entre disposições internas, que a preparam para o exercício da linguagem, e condições externas (frequentemente associada à estimulação exercida pelos adultos para a realização dessas disposições).
    Para Stern, a convergência é um princípio geral que permite abordar todos os comportamentos humanos, nomeadamente os linguísticos. Não descura o papel determinante dos fatores sociais e ambientais, mas não deixa de salientar a dimensão interna que subjaz, por exemplo, ao que entende como primeira forma de comunicação: a da concordância afetiva, também reconhecida por Espinoza. Ainda sem a marca da cognição (da consciência), essa forma comunicativa assenta em aspetos de vitalidade: frente a quem chora, alguém chora; frente a quem se ri, alguém se ri.

Baruch de Espinoza, de ascendência judaico-portuguesa,
foi um racionalista e filósofo prático do século XVII

   Neste sentido, comunicar passa pela assunção do afeto (affectus) enquanto expressão da mudança, da transição (transitio) de um estádio para outro (seja no corpo afetado seja no afetante), com orientação positiva ou negativa para o corpo afetado (respetivamente, definindo-se pelo aumento ou pela diminuição da potência de agir do corpo). A partir do momento em que a consciência se instala, contudo, muitos outros afetos surgem, nomeadamente os que mais estrategicamente se constroem. Potencialidades da comunicação.

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