sábado, 13 de agosto de 2022

Um dia depois...

      Porque é agosto, é dia de sol, ...

     Porque a seguir a um dia vem outro e há quem esteja já para lá do tempo (que passa sempre). É o caso de Miguel Torga.

               MÁGOA

Medas de trigo ao sol - Agosto,
Tudo o calor do Sonho amadurece;
Só a verdade amargura do meu rosto
Permanece!

Até me lembro que não sou da vida!
Que não pertence à terra esta tristeza…
Que sou qualquer desgraça acontecida
Fora do seio mãe da natureza.

E contudo não sei de criatura
Que mais deseje ter esta alegria
De um fruto azedo que arrancou doçura
Do céu, das pedras e da luz do dia.
.
Leiria, 11 de Agosto de 1940.
in Diário I

     Sem mágoa(s), sem medas de trigo, sem querer ser "desgraça acontecida", há a consciência do que possa fazer ensombrar e perigar esta vida; mas há também palavras a combinar e a criar alguma da magia que só os eleitos conseguem trazer à escrita poética, como que peneirando, do pó da terra, o ouro vital que a ela nos liga.
     Nos grãos de areia que caem no relógio, há tempo para que a poesia dos versos torguianos adoce o dia - o de hoje e o do futuro.

    Porque ontem foi mais um dia para o celebrar e hoje, e sempre, faz sentido (re)lembrar.

4 comentários:

  1. Também em mim Torga faz sempre sentido. Gosto-lhe da prosa como da poesia.

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    1. Quem é bom no pensamento é-o em qualquer das formas de escrita (embora deva reconhecer que nem todos os escritores se notabilizassem em alguma delas).

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  2. Obrigada, Vítor, por fazeres entrar na Carruagem momentos da vida de escritores que não devíamos esquecer, sobretudo para lembrar e avivar a sua obra.
    Um abraço e continuação de bom verão com boa maresia.

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    1. Obrigado, Dolores, por ainda viajares na Carruagem, em tempos de muita permanência no "estaleiro".
      Beijinho e boas férias.

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