sábado, 6 de outubro de 2012

Questões de restrição e de sintaxe no adjetivo

         A propósito da posição dos adjetivos e da sua função sintática, surgiu uma questão.

        Q: Há uma grande parte de adjetivos qualificativos que pode ocorrer numa posição pré ou pós-nominal. A posição desse adjetivo resulta em interpretações diferentes e ganha, portanto, valores diferentes: um valor restritivo ou um valor não restritivo. 
           1) Ele é um bom homem. (valor não restritivo) 
           2) Ele é um homem bom. (valor restritivo) 
       Se fizermos a análise sintática destas duas frases, verificamos que, em qualquer uma delas, dentro do predicativo do sujeito está um modificador restritivo do nome ("bom"). 
        Não lhe parece um pouco estranho que, ao adjetivo que possuiu um valor não restritivo, lhe caiba a função sintática de modificador restritivo do nome? 

       R: Começo por referir que não é a questão posicional do adjetivo que determina a natureza restritiva / não restritiva do modificador (há adjetivos pospostos que admitem ambas as caracterizações). Esta característica é de natureza semântica, e não sintática, mais propriamente da construção de referência (designação de uma entidade, relação estabelecida entre uma expressão linguística a um objeto de mundo, segundo uma determinada situação enunciativa). 
    De seguida, convirá referir que, nas frases apresentadas, 2) apresenta um adjetivo qualificativo com valor restritivo por distintamente referenciar ‘um homem bom’, face a ‘um homem mau’ ou mesmo a ‘um homem menos bom’ (isto é, a entidade ‘Ele’ faz parte de um grupo de homens restritivamente encarado). Já 1) aponta para uma realização não restritiva do adjetivo, na medida em que está em questão uma realização modal, apreciativamente equacionada pelo sujeito da enunciação a ponto de se poder atribuir um sentido não literal ou não denotativo.
        Por fim, há a reconhecer que, em termos sintáticos, no predicativo do sujeito (‘um bom homem’ / ‘um homem bom’) de ambas as frases há internamente, e a um segundo nível de análise, um modificador (‘bom’); todavia, este só é modificador restritivo em 2), pois em 1) é um modificador modal (ou, se quiser, uma realização que aparece tipificada no domínio de não restrição da referência).

       Um cuidado impõe-se no trabalho da análise sintática: verificar a que nível de análise se identificam as funções. Um outro acresce: avaliar até que ponto interessará subcategorizar ou subtipificar uma função. Naturalmente tudo dependerá do reconhecimento que alunos já possam ter das categorias maiores.

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