O tempo que nos afasta do passado é um presente que nem sempre tem os melhores ecos, lembranças ou reminiscências. Platão diria que são sombras...
Q: Que me dizes desta definição de étimo: «O étimo é a forma que constitui a origem de uma dada palavra. Normalmente o étimo identifica-se com a base da palavra actual e faz a ponte com a forma original da palavra. Um exemplo de étimo é racio, que é o étimo de “razão” e de “racional”»?
R: Não sei que diga... não vá o arrazoado constituir alguma referência e de renome. A verdade é que não concordo muito com ela. Mas vamos por partes. Entendo que a noção de 'étimo' remete para a perspectiva diacrónica da língua e é nesse plano que deve ser considerada; daí a necessidade de restringir a primeira afirmação: o étimo é a forma que, diacronicamente, constitui a origem de uma dada palavra. Isto afasta-me, desde logo, da segunda afirmação da definição e do cruzamento com o termo 'base', o qual, morfologicamente, convoca uma perspectiva sincrónica (o que nem sempre é coincidente com 'étimo': por exemplo, a base de 'principalmente' é 'principal'; não o étimo 'principālis').
Por fim, não creio que o exemplo final seja feliz, pela abrangência e associação de família de palavras que traduz relativamente ao latim e à consciência que se possa ter desta língua (o que não acontece com o comum dos falantes). Além disso, pela consulta de vários dicionários com informação etimológica, 'razão' tem como étimo 'ratiōne-', 'ratĭo, ratiōnis'; racional é um termo que deriva do étimo 'rationāle-, rationālis' e da aplicação de princípios de evolução fonética.
Por fim, não creio que o exemplo final seja feliz, pela abrangência e associação de família de palavras que traduz relativamente ao latim e à consciência que se possa ter desta língua (o que não acontece com o comum dos falantes). Além disso, pela consulta de vários dicionários com informação etimológica, 'razão' tem como étimo 'ratiōne-', 'ratĭo, ratiōnis'; racional é um termo que deriva do étimo 'rationāle-, rationālis' e da aplicação de princípios de evolução fonética.
Mais uma razão para pensar bem no que fazer com o que o passado nos deu. E não há como cruzar várias fontes, para despistar pontos críticos.
Acho que o Platão aqui foi muito bem empregue!
ResponderEliminarAfinal, as palavras que agora usamos são "sombras" de outras, de há muito tempo...
e, por causa desse mesmo passar do tempo, adquiriram outras tonalidades, outros sentidos. Será que o significado primeiro de 'ratiōne-' é exactamente o mesmo que o de "razão"? Não me parece. Não são os mesmos homens que dizem essas palavras.
Mas, meu amigo, por aqui fico! Ainda corro o risco de ir buscar o meu Saussure e discorrer sobre a arbitrariedade do signo linguístico e relacioná-la com as teorias do conhecimento que se centram na percepção e (re)construção do mesmo e etc...
Eh eh eh...
Tudo de bom!
IA