Li O Prenúncio das Águas e uma mulher nova se me revelou: não a das novelas ou das músicas. A portadora da sensibilidade, a do toque de simplicidade e delicadeza. A da serenidade.
Lembro-me de um poema que cheirou a azul,... que me deu a ver a música... e soou a rosto sereno com um sorriso a apagar o mal.
Quem me quiser há-de saber as conchas
a cantiga dos búzios e do mar.
Quem me quiser há-de saber as ondas
e a verde tentação de naufragar.
Quem me quiser há-de saber as fontes,
a laranjeira em flor, a cor do feno,
a saudade lilás que há nos poentes,
o cheiro de maçãs que há no inverno.
Quem me quiser há-de saber a chuva
que põe colares de pérolas nos ombros
há-de saber os beijos e as uvas
há-de saber as asas e os pombos.
Quem me quiser há-de saber os medos
que passam nos abismos infinitos
a nudez clamorosa dos meus dedos
o salmo penitente dos meus gritos.
o salmo penitente dos meus gritos.
Quem me quiser há-de saber a espuma
em que sou turbilhão, subitamente
- Ou então não saber coisa nenhuma
e embalar-me ao peito, simplesmente.
Rosa Lobato de Faria (1932-2010)
Expressão de gesto, de acto e de afecto em palavras que a poesia deixa relembrar, superando a morte.
Hoje quem a quiser poderá sempre marcar encontro com a sua obra.
Uma perda, uma grande perda!
ResponderEliminarJá o disse, aqui, por estas redes virtuais...
Mas, estou a escrever este comentário e ouço "Chamar a Música" e sei que, por esta (canção) e por outras (poemas - feitos canção, ou não - romances...), ela vive!
Marcarei, com certeza, em breve, encontro com ela na palavra escrita.
Não li os seus dois últimos. Lê-los-ei. Entretando, fico com "um chá feito / de ervas e jasmim / E aromas que não há (...)Encontrar à flor de mim / Um poema de cetim"
Um beijinho e um bom fim-de-semana
IA
Minha amiga,
ResponderEliminarHá músicas que marcam. O compositor João Carlos Mota Oliveira foi fantástico; a letra da Rosa Lobato Faria faz o casamento perfeito.
Também gosto muito. Acho que a vou 'postar'.
Beijinho e bom fim de semana.
Quando ouvi o nome de Rosa Lobato Faria, dizendo-se que esta tinha partido, fiquei com a sensação de que aquele nome sonante me era familiar. Foi aí que me lembrei: na minha estante, lá no meio de outros livros, encontra-se um que se intitula 'As Esquinas do Tempo'. Uma obra que relata um inexplicável mistério que leva a personagem principal, de seu nome Margarida, a retroceder 100 anos no tempo. No meio de tudo isto, a peça central, um retrato a óleo de um homem, é a chave de todo este enredo, mas falta a fechadura para esta chave...
ResponderEliminarUm romance simultaneamente poético e fantástico que marca a passagem, por este palco da vida, de um grande talento literário.
Beijinhos
VS
Também eu tenho esse na estante, no meio de tantos outros que estão por ler. Queria "tempo" para ler por prazer; mas "as esquinas" constantes desta vida não me deixam ver essas avenidas de felicidade. Restam-me as ruelas (não de má fama, espero!) de pequenas conquistas. Há que ter esperança.
ResponderEliminarBom fim de semana.
Beijinho.