Cruzei-me com Heróis à Moda do Porto.
Trata-se de uma compilação de contos - produzidos por um grupo de alunos e que, com a coordenação do professor João Carlos Brito, reflectem o que é a linguagem das gentes do norte e da cidade "inbicta".
Inspirados em contos tradicionais, os autores recontextualizaram as intrigas e a linguagem, para que, entre outros, a Bela Adormecida desse lugar à "Baby Dopada"; o Bambi se transformasse no "Bambi, o Cenourinha; o Capuchinho Vermelho se tornasse em "A Garina da Sé" e a Pequena Sereia acabasse como "A Faneca".
A adaptação criativa combina com a adopção de um registo linguístico que molda os típicos incipit narrativos de novas configurações ("Há bué bué de tempo", "Esta cena aconteceu lá pró Norte...", "Era uma vez uma garina..."); matiza o escrito de traços de uma oralidade tão tripeira quanto nortenha, para não dizer mesmo fruto dos tempos e dos tiques de linguagem que se reproduzem por muitos locais frequentados por gente jovem na idade e no espírito, sempre disposta a "bombar", a pensar na "naite" (cada vez melhor quanto for 'ol naite longue'); reinventa o número sete para designar a quantidade de traficantes que acompanha a Geninha da Branca (qualquer semelhança com os anões da Branca de Neve não é pura coincidência!) ou, então, o número de contos (que, não sendo os da moeda em uso, valem muito pelas histórias que dão a ler e que não têm preço, pelo bem-estar e pelo cómico que proporcionam).
Quanto ao epílogo, esse fica com a referência a um espaço comum, o 126 da Rua Passos Manuel, ali frente ao Cinema Olímpia (espaço de redenção, relações, felicidade, festa, também feito de alguns segredos por contar).
Lê-se na contracapa que as personagens dos contos infantis, nesta obra, desatam a falar "portoguês"; por mim, acho que falam à moda do Norte, dos tempos contemporâneos e de variedades que, não sendo a padronizada, têm a familiaridade que os nossos ouvidos revêem a cada passeio, mercado ou esquina da rua.
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