Assim se cumprimenta quem se deixa dominar pela Fúria Divina.
Numa intriga feita de enigmas a descodificar, de aprendizagens a construir e de riscos / desafios a correr, o leitor ganha com a pesquisa feita por José Rodrigues dos Santos e a partilha sobre alguns dos princípios e ideais islâmicos (dos mais pacíficos aos mais fundamentalistas); tira ainda proveito de toda uma história que apresenta diferentes perspectivas do que é o islamismo, o Alcorão e o radicalismo religioso.
Numa crise mundial em que Ocidente e Oriente são pólos de tensão e de luta pela supremacia de poder, a religião torna-se bandeira para um jogo conflitualmente assumido entre o governo segundo as leis dos homens e o domínio segundo as leis de Deus (não fossem estas últimas interpretadas à luz da racionalidade dos homens!).
Tudo o mais anda algo próximo da receita de Dan Brown e da personagem Robert Langdon: um perigo instala-se, o confronto com o mau da fita é inevitável, a descoberta é feita (jogando com sinais e raciocínios que um historiador e criptanalista acaba por desvendar ao último segundo). E, para não variar, um toque de sedução para ver se vai durar muito.
Por fim, há de tudo e para diferentes (des)gostos: entre a afirmação da genialidade do protagonista e a frustração ou desilusão de alguns dos seus intentos.
Tal como se começou, resta fechar no mesmo tom e com educação: Wa alekum salema (assim se devolve uma saudação).
Olá.
ResponderEliminarIsto hoje é de rajada. Falam-me de livros e de ler por prazer e eu, mesmo sem tempo, não resisto. Tenho essa "fúria divina" na estante, mas ainda não li. Um dos motivos é a sensação de "dejá-vu" que os livros estilo Dan Brown me deixam. Mas nas férias grandes pegar-lhe-ei.
O meu propósito neste "post" é recomendar um outro livro fantástico que aborda também a cultura muçulmana; é, aliás, uma peregrinação fantástica desde Granada a Roma, passando por Fez, Cairo, Meca entre outras, na companhia de Hasan as-Wazzan ou Jean-Léon de Médicis, como ficou conhecido mais tarde. Refiro-me a "Leão, o africano" de Amin Maalouf. Imperdível. Confesso que o momento em que o li poderá ter influenciado a minha perspectiva (tinha estado em Marrocos e sentido o medievalismo fascinante de Fez, Meknes, Chefchaouan e tinha também decidido aprender a língua árabe - muito mais difícil do que pode ser imaginado. Só começar a escrever da direita para a esquerda demora horas...).
De qualquer forma, altamente recomendado para quem se sinta atraído pela temática e pelo romance histórico.
Aqui fica um cheirinho: " Eu, Hassan, filho de Mohamed, o almotacel, eu, Jean-Léon de Médicis, circuncidado pela mão de um barbeiro e baptizado pela mão de um papa, chamam-me hoje o Africano, mas de África não sou, nem da Europa nem da Arábia... Sou filho da estrada, a minha pátria é a caravana e a minha vida a mais inesperada das travessias(...).
Da minha boca ouvirás o árabe, o turco, o castelhano, o berbere, o hebraico, o latim e o italiano vulgar, pois todas as linguagens, todas as orações me pertencem. Mas eu não pertenço a nenhuma (...) a minha sabedoria viveu em Roma, a minha paixão no Cairo, a minha angústia em Fez, e em Granada vive ainda a minha inocência(...)"
Digam lá se este início de livro não é fantástico? As primeiras frases de um livro são para mim determinantes. Acho que iniciar uma obra deve ser uma das coisas mais difíceis que existe.
Ma'a salama (adeus)
Excelentes leituras.
Óptima sugestão, que vou considerar.
ResponderEliminarQuis ler a "Fúria Divina", primeiro, porque já tinha ouvido falar de algumas experiências bem recebidas por leitores amigos (outros títulos anteriores do autor); segundo, por um grupo de alunos se ter predisposto a apresentá-lo no 'Contrato de Leitura'.
Para já, quanto a curiosidades orientais islâmicas, fico-me por outro título: "O livro que desceu do céu", de Ahmad 'Abd al-Waliyy Vincenzo. Quando o terminar, digo qualquer coisa.