quarta-feira, 7 de abril de 2010

De Camilo a Régio, para literatura feita de viagem

      Para isto servem as pausas: ver, ler, ouvir e sentir a literatura que vai oficialmente escapando aos nossos sentidos.

      A viagem teve como destino, na manhã, S. Miguel de ... ora Seide ora Ceide (indicações para diferentes gostos gráficos, sempre em comunhão homofónica). Momento para recordar Camilo Castelo-Branco, o seu tom sarcástico e irónico de escrita; um percurso de vida entre o aventureiro, o crítico e ousado, o sofrido; um homem que enfrentou o próprio tempo.
     Da casa onde pôs termo à vida ao Centro de Estudos Camilianos... um atravessar de rua para se acompanhar uma exposição sobre as mulheres do escritor (da mãe, das diferentes companheiras, àquela que lhe seguiu os passos na literatura - ainda que, assim se diz, ele a preferisse na cozinha).
     À tarde, foi a vez de José Régio, um homem plural para (ou em) um escritor singular. 68 anos de vida para o defensor da "Literatura Viva": "Em arte, é vivo tudo o que é original. É original, tudo o que provém da parte mais virgem, mais verdadeira e mais íntima duma personalidade artística". Haja personalidade na obra, mas quanto a obedecer-lhe... assim o entenda o leitor.
     Entre a formação em línguas românicas, a docência de Português, a produção escrita e as colecções de arte popular antiga mais as de pendor sacro, José Régio impôs-se como figura de intervenção cívica e intelectual na primeira metade do século XX, sendo um dos fundadores do segundo modernismo português e da revista Presença.

Pseudónimo de José Maria dos Reis Pereira,
neto de ourives e filho de homem dedicado às artes e letras,
rendido à necessidade de trabalhar na ourivesaria
     




             Vila do Conde aqueceu os caminheiros com o sol que abrilhantou o dia, num contraste assumido com o espírito suicida do autor de Onde está a Felicidade? (1856); com a ambiência sofrida, vitimizadora e dominada pela arte sacra com que o criador de Confissão de um Homem Religioso (póstumo) traçou as divisões de uma casa herdada da tia-avó e madrinha, ao lado daquela em que havia nascido.

     De uma tertúlia andante se fez resumo, para o que da crónica a produzir muito haveria a escrever; mas, perante dois exemplos de escritores fisicamente pequenos (embora intelectualmente grandes na literatura e cultura portuguesas), tudo ficaria a esmo face ao que "doze apóstolos" puderam vivenciar.

2 comentários:

  1. Que bom eu ter sido apóstola/caminheira! E ter sido um dia luminoso - pelo sol, pela(s) companhia(s), pelos objectos artísticos (re)visitados!
    Felizes os que deixam uma obra que é um pretexto para renovadas viagens!

    Um abraço

    Dolores

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  2. Se eles nos tivessem conhecido, se eles soubessem como iam ser admirados por nós, seriam certamente mais felizes.
    Dia em pleno... em crescendo!
    Bjs

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