Porque há verso e reverso, há sempre a possibilidade de a poesia voltar ao uso original da língua (se não for ela a própria origem); porque há palavras que têm em si o seu antónimo, construa-se o significado que mais lhes convém.
É o caso da palavra 'relevar', conforme se lê nas frases dadas:
i) A chamada telefónica permitiu-lhe relevar as saudades que tinha sentido com a partida do amigo.
ii) Depois da situação crítica vivida, passou a relevar muito do que julgava ser o pior da vida.
a) Muita gente acha que os adornos ajudam a relevar a beleza.
b) Entre tantos assuntos a tratar, o administrador decidiu relevar uns tantos em detrimento de outros de pequena monta.
Entre os pares construídos, ao primeiro associa-se o sentido da diminuição e da atenuação; ao segundo, o traço da saliência, do destaque. À perda de i)-ii) contrapõe-se o ganho em a)-b), fazendo-se sobressair algo.
Se algumas palavras são camaleónicas (mudando a classe, apesar da forma, tal como os famigerados répteis o fazem na cor), outras há que tudo mantêm, excepto aquilo que os comunicantes nelas possam ver ou ler. Por isso, quando se relevar algo que tenha sido dito, há sempre a possibilidade de acertar em pólos extremos, conforme se queira destacar (porque se aceita) ou menorizar (porque se discorda).
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