Pragmática e linguística textual: área a (re)descobrir no ensino?
" - Também aprendes alemão?
- O que é que queres dizer com isso?
- Só aprendes línguas estrangeiras, ou tens ainda alguma coisa a aprender na tua própria língua?
- Lemos textos."
O pronome "isso" é um anafórico de quê? Alemão?
R: Os anafóricos não são apenas elementos que retomam antecedentes sob a configuração de palavra ou grupo de palavras. No caso em concreto, ao falar-se de retoma, tem que se focalizar todo um acto de fala anterior a ser encarado como segmento antecedente; isto é, o acto de fala directivo apresentado no primeiro turno de fala (marcado por uma interrogação total) é recuperado pelo demonstrativo "isso" (o quê? > o facto de me perguntares se também aprendo alemão).
Assim, em termos de análise do discurso produzido, o interlocutor que assume a voz no segundo turno de fala reenvia, anaforicamente, para o do primeiro, indagando-o quanto à intencionalidade ou ao sentido da interrogação total.
A especificidade dos textos bem como o recurso a mecanismos que, a todo o momento, se pautam por lógicas que só a(s) leitura(s) dos textos admite(m) são fontes para o exercício de análise do discurso, quer oral quer escrito.
Este não é um caso de «anáfora resumativa»? - Olívia Figueiredo, Dicionário Prático..., p. 34.
ResponderEliminarFrequentemente este tipo de anáfora até pode remeter para grandes segmentos textuais. Não?
Viva, António. Ainda que perceba a lógica da classificação pretendida, não colocaria "isto" nesse caso. Aliás, para isso, Olívia e Eunice Figueiredo, na obra por si citada, apontam a designação "anáfora pronominal". As anáforas resumativas têm uma natureza lexical própria, semelhante à técnica da prática de resumo: configura-se a redução de uma sequência ou série de termos a um de carácter mais genérico (superordenado), no qual uma relação de 'ser' está implícita relativamente ao que é retomado. Numa referência, por exemplo, a actos de vandalismo, a um roubo, a um assassinato, tudo poderá ser retomado com o lexema 'crime(s)' (mais geral, face aos anteriores, que são específicos e mantêm com o último uma relação de 'ser'). O que acontece no caso questionado é um exemplo de anáfora pronominal, que não retoma o habitual grupo nominal, mas todo um acto de fala (directivo) precedente. É verdade que grandes segmentos textuais podem ser retomados anaforicamente; mas para tal recuperação ser configurada por anáfora resumativa, prototipicamente tal é conseguido por mecanismos de relação lexical construída hiperonimicamente (habitualmente com nomes abstractos).
ResponderEliminarObrigado. Clarinho como água ...da fonte!
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