Ora vamos lá ver o que há a dizer...
R: Apetecia-me dizer "Sei lá!", para mostrar que, neste caso, se explora nocionalmente um sinal de afastamento face à esfera de conhecimentos do 'eu' que fala, para configurar uma partícula de negação; relembrei "Esta velha angústia" de Álvaro de Campos e os versos "Se ao menos eu tivesse uma religião qualquer! / Por exemplo, por aquele manipanso / Que havia em casa, lá nessa, trazido de África.", nos quais comparece um 'lá' deicticamente contrastivo face ao 'cá' - numa referencialidade que permite diferenciar o espaço lembrado ("... em casa, lá nessa...") daquele que se encontra implicitado e associado à produção escrita (o 'cá', 'este' ou 'esta'); distinguir o tempo da memória ('lá', na "minha infância perdida") daquele que surge vivenciado no período de produção e de "mal-estar a fazer-me pregas na alma".
Espacial ou temporal, os textos o dirão; pessoal, por certo o será, dado o sentido vectorial dos contrastes 'lá' ou 'essa' / 'cá' ou 'esta' (mais distante / mais próximo da voz que se assume como 'eu' do discurso.
A nível da deixis, a Professora Fernanda Irene Fonseca, no artigo "Deixis e Pragmática Linguística" (in Introdução à Linguística Geral e Portuguesa, da Editorial Caminho), refere bem como a deixis pessoal é "essa forma básica" de localização, pois esta (de ordem mais temporal ou espacial) é sempre feita "relativamente à posição ocupada pelos falantes. O espaço em que se realiza a mostração, mesmo no caso mais concreto da deixis espacial, não pré-existe ao acto de enunciação, é determinado por ele". Seja como for, é o contexto e o texto em análise que orientam para uma tipificação mais precisa dos deícticos
Além disto, nunca esquecer a funcionalidade anafórica do termo 'lá' (numa retoma de antecedentes discursivos: "Na cidade, não respirava a pulmão cheio; no campo , o ar invade-me todo o peito. Lá era a contenção; cá é a conquista").
Ia lá eu saber que tão pequena palavra desse tanto que falar... ou escrever.
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