É um dado cultural: na literatura, na música, ... na arte, na vida.
Sempre que se pergunta por que razão o sete é um número mágico, são múltiplas as respostas. Começo por concentrá-las num texto que ficará em construção.
Ao fim de sete dias de trabalho (até ao sábado e ao domingo!),
lembrei como Deus deve ter trabalhado muito nos dias da criação do mundo.
Daí ter dedicado o sétimo ao descanso!
(Como seria se, em vez de dias, gastasse os sete anos com que Salomão ergueu o seu templo?!
Cumpriria também um para descanso, qual ano sabático?!)
Cansado, quase homem dos sete ofícios,
busquei a harmonia das sete notas musicais,
a variedade das sete cores do arco-íris.
Dos sete astros sagrados
(Sol, Lua, Mercúrio, Vénus, Marte, Júpiter, Saturno),
voltei a cara para o Sol, para a luz desse Apolo feito deus
também de uma das Sete Artes: a Música
(para lá da Pintura, Escultura, Arquitectura, Literatura, Coreografia e Cinema).
Senti-me homem,
dividido entre os sete pecados capitais
(vaidade, avareza, ira, preguiça, luxúria, inveja, gula)
e as sete virtudes cardinais
(castidade, generosidade, temperança, diligência, paciência, caridade, humildade).
Dos sete sacramentos
(Baptismo, Confirmação, Eucaristia, Sacerdócio, Penitência, Extrema-unção, Matrimónio),
alguns já se cumpriram; outros poderão ou estarão para vir
até aos sete palmos de terra, na sepultura.
Recordei as cantilenas femininas da infância:
“sete e sete são catorze, com mais sete vinte e um; tenho sete namorados e não gosto de nenhum”.
Só faltava que elas viessem das nazarenas, mais as suas sete saias!
Cansado do sofrimento, fechei-o a sete chaves.
Troquei as sete rogatórias do “Pai Nosso” pelos sete anões da Branca de Neve;
apaguei da memória as sete quedas sofridas a caminho do Gólgota.
Fiquei-me pelo Carnaval, sete domingos antes do da Páscoa.
Na brincadeira e no espírito da diversão, aspirei ao sétimo céu.
Tantas foram as histórias ouvidas dos Sete Livros do Antigo Testamento
(Job, Salmos, Provérbios, Eclesiastes, Cânticos, da Sabedoria, do Eclesiástico).
Resta a lembrança, no Génesis, de Noé e do Dilúvio:
de como sete casais de cada espécie animal terrestre e aérea foram salvos na Arca;
ou de como no sétimo mês esta última descansou no monte Ararat;
ou de como, após o dilúvio, foi lançado um corvo,
seguido, sete dias depois, de uma pomba.
Mais sete dias passados, esta regressou com um ramo de oliveira.
Outros sete dias vieram, para, de novo, ser lançada ao ar e não mais voltar.
Mudaram-se os tempos: mudaram-se as maravilhas antigas para as modernas... ficou o sete.
Talvez por isso hoje tenha de se ver tudo com sete olhos,
para que nada falhe...
ou para que alguma coisa dê certo.
Homem sem as sete vidas dos gatos, aproveito a que tenho,
sem pintar o sete - entre diabruras ou desatinos.
Sigo o curso do rio, sem as botas de sete léguas, até chegar ao mar.
Aí, qual marinheiro, navegarei pelos sete mares
Tão mais perfeito seria o mundo com os sete princípios da moral pitagórica:
rectidão de propósitos,
tolerância na opinião,
inteligência para discernir,
clemência para julgar,
verdade nas palavras e nos actos,
simpatia e equilíbrio!
GondomarVO
Outras respostas haveria para mais numerados versos. Também sete são as Leis Universais (Natureza, Harmonia, Correspondência, Evolução, Polaridade, Manifestação e Amor); os dons do Espírito Santo (Sabedoria, Entendimento, Conselho, Força, Ciência, Piedade e Temor a Deus); as glândulas endócrinas (Hipófise, Tiróide, Paratireóides, Supra-renais, Sexuais, Timo e Pâncreas); os grandes mensageiros (Krisna, Buda, Lao-Tsé, Confúcio, Zoroastro ou Zaratustra, Moisés e Jesus); as personalidades de Deus (segundo Zoroastro, são estas a Luz Eterna, a Omnisciência, a Retidão, o Poder, a Piedade, a Benevolência e a Vida Eterna); os meios que o Homem tem para purificar, segundo o Budismo (Domínio de si mesmo, Investigação da verdade, Energia, Alegria, Serenidade, Concentração e Magnanimidade).
Revejo algumas outras numa canção bem portuguesa, registada na memória da minha adolescência: a música e a voz dos Trovante na "Balada das Sete Saias":
Trovante ao vivo, na interpretação de 'Balada das Sete Saias'
BALADA DAS SETE SAIAS
Sete ondas se noivaram
Ao luar das sete praias
Sete punhais se afiaram
Menina das sete saias
Sete estrelas se apagaram
Sete, que pena, chorai-as
Sete segredos contaram
Menina das sete saias
Sete bocas se calaram
Com sete beijos beijai-as
Sete mortes evitaram
Menina das sete saias
Sete bruxas se encontraram
No monte das sete olaias
Sete vassouras montaram
Menina das sete saias
Sete faunos contrataram
Sete cornos e zagaias
Aos sete encomendaram
Menina das sete saias
Sete princesas toparam
Com mais sete lindas aias
Por sete e sete deixaram
Menina das sete saias
Sete danças que bailaram
Sete vezes que desmaias
Sete luas te ansiaram
Menina das sete saias
Sete vezes se encantaram
No bosque das sete faias
Sete sonhos desfolharam
Menina das sete saias
Assim se (re)lê e vê o sete, entre a tradição e a (re)criação, na letra da canção.
E mais haverá para, no futuro, se ir acrescentando, para cumprimento da totalidade e perfeição do número.
Assim se (re)lê e vê o sete, entre a tradição e a (re)criação, na letra da canção.
E mais haverá para, no futuro, se ir acrescentando, para cumprimento da totalidade e perfeição do número.
Sobre o 7 e tradições associadas, leia-se "O Senhor Sete", de Trindade Coelho. Fundamental. Reeditado há pouco pela Caixotim, Porto, em colaboração com a Câmara Municipal do Mogadouro. Numa bonita caixa, podem comprar-se e ler-se, além do referido, "Os Meus Amores" e "In Illo Tempore".
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