quinta-feira, 30 de abril de 2009

Pensamento feito (de) língua

     Na releitura de uma entrevista feita a Carlos do Carmo e Júlio Pomar (sempre no propósito desta combinação que o fado tem com a poesia e o poder sugestivo das palavras), reencontrei um pensamento de relevo, vindo do pintor e também poeta (leia-se Alguns Eventos, Pub. Dom Quixote, 1992).


"As palavras são como as pessoas: ou se dão bem ou não se dão. E há palavras que não se podem dar bem, porque as sílabas não pegam."
in Visão, 15 de Novembro de 2007, pág. 133


Mestre Júlio Pomar (Lisboa, 1926 - ...)

      Realmente,... há coisas entre as pessoas que não pegam (mesmo que alguma vez, por razões do insondável, já tenham pegado!). Acredito que a consciência disso é um sinal de crescimento.

2 comentários:

  1. A poesia passa imenso pelas palavras que se pegam. Muito mais do que pelos sentimentos que se pegam. Nem sempre quem deve ter tem consciência disto. Contrariamente às pessoas, uma vez pegadas na poesia, as palavras nunca mais se desunem. (Isto está um bocado catafórico, não?) :)

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  2. Concordo: pegam as palavras, as sílabas, os sons. Assim se faz o trabalho poético. O sentimento está mais para a ordem do lírico, do emotivo, com ou sem poesia.
    E porque as palavras, como por alquimia, não mais se desunem na poesia, bem que preferia que o Homem vivesse num mundo mais poético, feito de trabalho e de poder transformador; que se pegasse às palavras e aos actos que o dignificam e o aproximam do seu semelhante (não como o pegador de Vieira, feito do oportunismo e até da ingenuidade que não o deixam sobreviver por muito tempo - ainda que se arvore, na sua condição e limitação, do poder daquele a que está pegado).
    Infelizmente, não é assim! (Isto só para terminar com um anafórico!):)

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