De tão "Desejado" que foi transformou-se num mito alimentado por crenças messiânicas.
Assumida como data do dia do seu nascimento (ainda que o dia 19 seja também apontado em alguns documentos), 20 de Janeiro de 1557 foi a concretização de um "Desejo", depositado por toda uma nação no herdeiro do infante D. João (filho de D. João III, rei português) e da princesa D. Juana (filha de Carlos V, rei de Espanha).
Entre o regozijo e as graças pelo nascimento do futuro rei, não se apagava o perigo que viria a colocar o ceptro de oiro nas mãos de uma criança (assim que cumpriu catorze anos). A morte, sem descendência, na perseguição de um sonho em Alcácer-Quibir, deixava então Portugal na condição de uma mais que previsível união ibérica (apenas adiada pelo breve reinado do Cardeal D. Henrique).
O princípio de monarquia dualista assumido por Filipe II de Espanha (I de Portugal), num compromisso de respeitar a autonomia de Portugal, não eliminou a crença no regresso de D. Sebastião, plasmada por D. João de Castro na Paraphrase et concordancia de alguas propheçias de Bandarra, çapateiro de Trancoso (1603). O mistério da morte do rei português, a incerteza do seu paradeiro e do seu destino, o desencontro entre rumores de sobrevivência, junto com o fundo messiânico judaico já existente em Portugal, geraram o mito do Sebastianismo, visível inclusive pelo aparecimento de quatro falsos D. Sebastião.
Entretanto, a divulgação da lenda do rei encoberto (proveniente possivelmente do reinado de Carlos V) cruza-se com o mito sebastianista, particularmente com o período da restauração da independência e a entronização de D. João IV (o Restaurador). O novo rei independentista concilia os dois conceitos (sebastianismo e encoberto), mas será o último a vingar enquanto fenómeno literário e cultural. O mito do rei que "há-de voltar numa manhã de nevoeiro" ainda hoje é um lugar comum. Ninguém o diz pensando num regresso efectivo, que o tempo há muito impossibilita. Contudo, serve para aludir a um intraduzível estado de espírito apoiado na crença de que, numa situação crítica, acontecerá aquilo que profundamente se deseja (sem o nosso esforço e sem a implicação da nossa responsabilidade).
Fernando Pessoa, com a sua Mensagem, muito contribuiu para a reconstrução cultural do mito. De um D. Sebastião - Rei de Portugal - encarado como uma das muitas peças do 'Brasão' (dessa componente basilar da História de Portugal) à sua condição de crescente espiritualidade no poema "A Última Nau" de 'Mar Português' ("A que ilha indescoberta / Aportou?"), chega-se à parte do 'Encoberto' com múltiplos sinais de como D. Sebastião assume a sua falha. O corpo ficou no areal; contudo, é desejado e anunciado o regresso, num plano divinizado, espiritual, cultural (enquanto mito e sinal de esperança). Assim permanecerá até à última composição poética da obra ("Nevoeiro"), que sugere o "encobrimento" a desvelar. "
É a hora!"
É a hora!"
D. Sebastião, segundo representação de Lima de Freitas
Desejo, sonho, vontade, acção, derrota, ilusão, encoberto... É tanto o nevoeiro destes tempos... (será que estou a ficar sebastianista?!).
Ai que isto vai dar cá um jeitinho para as aulas de 12º!
ResponderEliminarDeduzo, Vítor, que o texto é teu, (pois fonte, não a vejo); então, achas que posso aproveitar parte para eu fazer uma actividade para a minha turma de profissional?
Eu indico a fonte, claro! Porque o seu a seu dono!
bjinhos
e aguardo "autorização"!
IA
Autorização concedida, e sem direitos de autor.
ResponderEliminarQuanto a citar a fonte, só se for a "carruagem" mesmo. Depois da citação em formação do "Memorial do Convento", agora a tua... a carruagem começa a ficar famosa. De caminho não há locomotiva que a aguente!
Bjs
VO
Thank you. A "beautiful day".
ResponderEliminarDolores
Thank you, my friend.
ResponderEliminarYour answer reminds me of U2 - another "myth" to me, so much cultural as musical.
See you!