quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Actos ilocutórios e textos

      O cuidado que os actos requerem...

     Q: Os actos ilocutórios são um exclusivo da oralidade ou podemos também abordá-los na escrita (quando esta não reproduz o oral, naturalmente)? Concretizando, é correcto pedir para identificar o acto presente numa frase, em documentos como declaração, regulamento...? Encontrei esta situação num manual e levantou-me algumas questões, sobretudo no primeiro caso em que terá na base o compromisso dos outorgantes...

Pormenor da capa do álbum 'Division Bell', dos Pink Floyd (1994)
    R: Os actos de fala apontam para uma área de análise que deve ser abordada nos textos que evidenciam condições de produção analisáveis, preferencialmente, em função das coordenadas de interacção (independentemente do suporte ou meio oral / escrito utilizado), sejam elas encaradas de forma imediata ou mediada. No caso de géneros textuais e discursivos como os citados, é possível fazer uma representação dominante ou global dos actos nos termos exemplificados (caso dos compromissivos, nos contratos, pelo que se dá a ler do comportamento esperado do outorgantes - a partir do próprio contexto de assinatura e aceitação dos termos ou cláusulas; caso dos directivos, nos regulamentos, pelo que os enunciados apresentam de uma força ilocutória combinada com o conteúdo de enunciados orientados para a regulação ou acção sobre os destinatários).
      Não se trata de generalizar a presença desses actos em todos os enunciados desses textos; mas, convocando as condições de interacção, a representação e a análise dos enunciados, bem como a intencionalidade comunicativa visada, é perfeitamente possível tal abordagem, por se estar a considerar discursos pragmaticamente marcados por coordenadas de produção-recepção e/ou interacção intencionalmente planeada para a regulação de comportamentos sociais, transaccionais. Tais enunciados acabam por contribuir para um sentido global do texto, também o marcando e caracterizando linguisticamente em termos de macro-acto de linguagem.

     ... e que os textos acabam sempre por reflectir, quando não acabam por recriar.

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